sábado, 12 de maio de 2012

A invasão da Argentina (parte IV)

Vasculhando a rede.
Acabamos encontrando em pesquisas feitas na internet com a ajuda do repórter Veronese do Jornal da Fronteira, uma importante matéria sobre a invasão brasileira na Argentina, tema este que já foi visto em materias passadas com informações nos repassados pelo Sr. Ido Silvestre, esta matéria de hoje é do jornal Estado do Paraná aborda a mesma questão confiram:
A invasão da Argentina
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de julho de 1977
A revista "Siete Dias Ilustrados", número 524, data de circulação de 7 de julho (Editorial Abril, 82 páginas, 300 pesos- cr$ 10,00), que amanheceu segunda-feira nas bancas de Buenos Aires e outras cidades argentinas, traz na capa, sob uma foto do ditador Idi-Amin, em su uniforme repleto de reluzentes medalhas, uma chamada para a principal matéria: "Brasil - Argentina/Nuestra Frontera em Peligro". Uma reportagem de 8 páginas, preparada pelos enviados especiais Gerardo Barthé (texto) e Osvaldo Varone (fotos), diz que "el olvido y el abandono de la Argentina permitieron durante años la penegración brasileña en nuestras tierras a la altura del limite misionero de Bernardo de Irigoyen". xxx Na divisa de Bernando de Irigoyen com o Brasil - nos municípios limítrofes de Barracão (Paraná) e Dionísio Cerqueira (Santa Catarina), a população urbana do lado argentino é de apenas 3.000 pessoas para os 40.000 de brasileiros. Em linguagem contundente, a revista "Siete Dias Ilustrados" - uma das publicações de maior circulação da Argentina - na reportagem com o título de "Los Brasileños Corrieron El Mapa", aborda com palavras duras aquilo que classifica de invasão brasileira. As três fotos da abertura da matéria tem como legenda "asi se llevam nuestros alimentos", "asi se llevam la nafta", e "asi ocupan nuestro pais", documentando o contrabando de alimentos, da compra da gasolina a preços muito mais reduzidos e, principalmente a presença de centenas de famílias de colonos brasileiros no lado argentino. xxx O jornalista Gerardo Barthé fez muitas entrevistas com autoridades e moradores de Bernardo de Irigoyen, todos candentes em suas críticas ao "imperialismo" brasileiro. Rubens Constantino Kiskis, 37 anos, solteiro, "Intendente" do município, afirma que "Hay mucho problemas - -sobretodo por ser una frontera seca y muy fácil de invadir - porque de nuestro lado son terras fiscales, y por la evidente presión demográfica que ejercen los brasileños. Y justamente el ochenta por ciento de nuestra problación está compuesta por gente de Brasil. Desgraciadamente, los que han invadido território argentino son ciudadanos brasileiros de pocos recursos y ninguns cultura o especialización". E prosseguindo as críticas o prefeiro de Bernardo do Irigoyen afirma que os colonos brasileiros que invadiram o território argentino não o beneficiaram em nada. Ao contrário, queimaram as terras do governo. Acusa ainda de que "un avion Cessna del Comando de Operaciones Especiales del Brasil", com matrícula L-42-325", tem invadido várias vezes a área. E, por último, lamenta que enquanto do lado argentino não há escolas, hospitais, o comércio é pobre - nos municípios limítrofes - Barracão no Paraná e Dionísio Cerqueira em SC, pode-se fazer ligações telefônicas com qualquer parte do mundo, há agências bancárias, eficiente assistência médica "y hasta televisión en colores". xxx Outra denúncia é a que faz Edgardo Sar, diretor da emissora argentina LT-46, Rádio Bernardo de Irigoyen, inaugurada a 6 de novembro de 1976: uma rádio brasileira (não detalha se de Barracão ou Dionísio Cerqueira) ocupa a mesma [freqüência] atingindo com sua de 5 kilowattes, uma área de mais de 100 quilômetros, enquanto a LT-46 apenas chega a 20 km. O médico Gabriel Susano Farfan, 46 anos, casado, um filho de nove meses, formado em Cordoba em 1966, no município desde 10 de julho de 1972, queixa-se da falta de condições para dar melhor assistência, da pobreza da população (recebe como pagamento, porcos, ovos e galinhas) e que apesar de tudo os brasileiros ainda vão procurá-lo no Posto Médico, para serem atendidos gratuitamente - embora em Barracão e Dionísio Cerqueira existam duas clínicas, com 50 leitos - "porque allá cualquier consulta vale 150 cruceiros, y aqui es gratis ..." xxx A revista argentina entrevistou também um piloto brasileiro, Darcy Forte da Silva, 49 anos, "un tipico caso de invasos al suelo argentino y que nu puede producir casi nada por nuestro pais. Apenas si consigue alimentar las bocas de los suyos...", segundo o jornalista de "Siete Dias [Ilustrados]". Com 9 filhos e 1 neto, Darcy Forte da Silva planta arroz, batatas e feijão e seu relato é triste, contradizendo o que se poderia pensar da imagem de um "invasor": seus filhos não têm sapatos, andam 10 km para ir à escola, sua esposa e filhas ajudam na lavoura e ele trabalha das cinco horas da manhã até à noite. xxx As autoridades estão otimistas em suas afirmações. Manuel Luis Ripol, 35 anos, casado, 3 filhas, há 3 meses "Jefe de Sección de Gendarmeria en el pueblo de Bernardo de Irigoyen" queixa-se de que para policiar uma área de fronteira de 72 km tem apenas 25 homens. Apesar disso orgulha-se de afirmar que "combatimos - y evitamos la radicación ilegal de personas ("hinos expulsando ultimamente a más de cien") y también, a quienes puedan tener documentos falsos e dudosos". Admite, entretanto, que entre 1974/75 houve muita corrupção no fornecimento de documentação, mas os responsáveis "por suerto están casi todos presos". Por último León Embon, "jefe del Resguardo", ou seja da alfândega de Bernardo de Irogoyen, admite que é grande "la saída de mercaderia" da Argentina para o Brasil, mas que está inclusive impossibilitado de cobrar taxas ou multas porque não existe agência bancária em Bernardo de Irogoyen. xxx No lado do Paraná, a povoação que desde 14 de novembro de 1951 é o município de barracão (desmembrado de Clevelândia) foi fundada a 4 de julho de 1903, pelo general Dionísio Cerqueira. A existência na época de imensas matas e a fertilidade da terra [atraíram] uma grande população, expandindo-se a povoação para o Estado de Santa Catarina e hoje as duas cidades, são divididas unicamente por uma linha seca: a do lado catarinense recebeu o nome de Dionísio Cerqueira, em homenagem ao fundador que na época ocupava o cargo de Chefe da Comissão de Demarcação dos Limites Brasil-Argentina. Misael Siqueira Bello foi o primeiro morador de Barracão e o seu primeiro prefeito, em 1951. Com uma área de 511 km2, Barracão tem hoje cerca de 28 mil habitantes e o seu prefeito é Andrea Guareschi, mas que será substituído no cargo ainda este mês, pelo sr. Alberi Matte.

Fonte Tabloide Digital.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Veiculo: Estado do Paraná
Caderno ou Suplemento: Almanaque
Coluna ou Seção: Tablóide
Página: 4
Data: 08/07/1977

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