Pioneiro Raul Silva Dico revela como era a vida nos
tempos da erva-mate
“E aquela
tropa de mula, de quarenta a cinquenta mulas, todas arriadas com cangalha e
bruaca, vinha vagarosamente pela picada, cortando o Peperiguaçú, na trevessia
do Brasil para a Argentina. Esse foi o tempo da erva-mate, que fez parte da
minha e da vida de meu papai, que foi o maior comerciante daqui da região da
tri-fronteira, nas décadas de 1930 e 40” .
A frase
acima foi dita pelo ancião Raul Silva Dico, hoje com 95 anos de idade, terceiro
filho de um dos primeiros moradores das cidades trigêmeas: Manoel Silva Dico.
Quase
surdo, trêmulo, fraco dos pulmões, Raul Silva Dico parece estar com a mente
iluminada, respondendo a cada pergunta com uma energia extraordinária,
remontando cada momento em sua lembrança. “Esse caminho da erva-mate, que saia
de Campo Erê, Palma Sola, Tracutinga, de toda região, seguia daqui até porto
Bembe, hoje porto Libertá. Estas viagens eram comuns, e os tropeiros tinham
estrutura, tinha barracas de taquara para as paradas, e assistência pelo
caminho, cuja viagem levava quatro ou cinco dias. De porto Bembe, a erva seguia
até Posadas por água”, explicou Raul Silva Dico.
Ele
explicou que Manoel Silva Dico fora um pioneiro que visualizada oportunidades.
“Meu papai veio de Soledade, no Rio Grande do Sul, em 1904. Aqui em Dionísio Cerqueira
quando tinha 20 anos, casou-se com minha mamãe que veio de Posadas, Rosa Lopes,
na época com 15 anos, para ser “maestra” na primeira escola de Bernardo de Irigoyen.
Meu papai virou comerciante e chegou a ter dezenas de tropas de mulas em
trânsito, cada uma com quarenta ou cinquenta mulas, com acampamentos de
barbaquá em todo lugar para secar ervas, com enormes depósitos e uma grande
quantidade de funcionários”, revelou Silva Dico.
Na divisa
entre o Brasil e Argentina, onde hoje esta a aduana, Raul disse que só existia
uma barreira de madeira, controlada por dois guardas que se revesavam em
turnos, ambos pagos pelo Manuel Silva Dico. “Na época, meu papai tinha um sócio
em seus negócios, Alfonso Arrechea, que mais tarde teve um filho governador de
Missiones por três mandatos, Claudio Arrechea”.
Manoel
Silva Dico, que era chamado respeitosamente por Dom Manuel, morreu em 1965,
após exercer durante anos a função de primeiro presidente da Comissão de
Fomento de Bernardo de Irigoyen, cargo que é hoje o Intendente. Ao noticiar sua
morte, diversos jornais da imprensa argentina lamentou dizendo ter sido “Dom
Manuel um homem de fé inabalável, inquieto e preocupado com o desenvolvimento
da sua comunidade”.
Raul Silva
Dico assumiu os negócios do pai e, por mais de 60 anos, foi comerciante em
Bernardo de Irigoyen, tendo sido, assim como seu pai, presidente da Comissão de
Fomento, na década de 1950. “Naquela época a gente trabalhava pelo município de
graça, por solidariedade mesmo, não como hoje, que o intendente ou o prefeito,
tem um salário alto para exercer a função. Como presidente de Fomento, meu
principal trabalho era abrir ruas e manter a normalidade local, principalmente
porque aqui tínhamos a ‘Escuela da Frontera’, no qual estudavam muitos
brasileiros, já que no Brasil demorou até construírem uma escola. Eu contribui
muito com aquele educandário”, destacou Silva Dico.
Raul Silva Dico
falou sobre diversos assuntos, sobre o tempo dos banditismos, sobre as
revoluções, também sobre o contrabando na fronteira. Estes outros assuntos,
entretanto, deixaremos para outras matérias que futuramente publicaremos.
Por Luiz Carlos Veroneze
Esse é meu tio... Escreveram a história de Dionìsio Cerqueira pela metade, um tal de Gilberto Shereinner Pereira, que por motivos de não ter trabalhado direito como advogado em questão de herança da familia e ter sido cobrado por isso, em vingança excluiu totalmente o nome do meu avô do seu livreto. Más não é um livreto que vai ofuscar a verdadeira história e aqui e ali consta a grandeza do meu avô Manoel silva Dico e sua grande família nos anais da história da região. Que feio hem seu Gilberto?
ResponderExcluirRafael Angel silva Dico.
Algunas correcciones necesarias: El nombre del Puerto es Bemberg porque es un nombre propio que no se debe cambiar. El nombre de la abuela es Rosa Lopez; el fallecimiento de Manoel Silva Dico ocurrió en Buenos Aires (Argentina)en el año 1955. Muy interesante la nota. Alguna vez deberemos escribir la historia completa, es un compromiso. Soy su nieto y ahijado: Juan Manuel Sureda.
ResponderExcluir