quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cerqueirense João Mussini escreve monografia sobre a formação étnica na Tri-Fronteira.


A alguns dias estivemos conversando com o Mussini em questão o qual fez trabalhos sobre a formação étnica da fronteira quando concluiu seu licenciamento em Historia, ele nos autorizou em publicar seu conteúdo em nosso blog, o que esta sendo feito hoje e em alguns dias novos conteúdos deste historiador fronteiriço será postado aqui;
Mussini salientou que tem um site em que podem ser vistos todos os seus trabalhos, deixamos o link abaixo para quem quiser conferir.

UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC

JOÃO ALBINO MOSSINI
TEREZINHA R. DE CAMARGO

A FORMAÇÃO ÉTNICA DA FRONTEIRA: BARRACÃO / PR, BERNARDO DE
IRIGOYEN /ARGENTINA E DIONÍSIO CERQUEIRA / SC

SÃO MIGUEL DO OESTE, NOVEMBRO DE 2006.

Universidade do Oeste de Santa Catarina

UNOESC – Campus de São Miguel do Oeste
Centro de Ciências Humanas e Sociais
Curso de Licenciatura Plena em História

João Albino Mossini
Terezinha Rodrigues de Camargo

A FORMAÇÃO ÉTNICA DA FRONTEIRA: BARRACÃO / PR, BERNARDO DE
IRIGOYEN /ARGENTINA E DIONÍSIO CEQUEIRA / SC



Monografia apresentada na disciplina de
trabalho de Conclusão de Curso II, como
requisito básico para a obtenção do título de
Licenciatura Plena em História.

UNOESC – Campus de São Miguel do
Oeste

Orientador: MsC. Paulo Ricardo Bavaresco

SÃO MIGUEL DO OESTE, NOVEMBRO DE 2006

FICHA DE APROVAÇÃO DA BANCA

Monografia apresentada na disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso II, como
requisito básico para a obtenção do título de
Licenciado em História. UNOESC, Campus
de São Miguel do Oeste.


Orientador: MsC. Paulo Ricardo Bavaresco.
___________________________________


Prof. MsC. Paulo Ricardo Bavaresco
Orientador
___________________________________


Profa. MsC. Dirce Drebel Sehnem
Professora da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II
___________________________________


Profa. MsC. Ana Maria Pértile
Professora do Curso



SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................1
CAPÍTULO I
1.1 – COLONIZAÇÃO DO BRASIL...............................................................................4
1.2 – RACISMO NO BRASIL........................................................................................14
1.3 – FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO..............................................................16
CAPÍTULO II
2.1 – COLONIZAÇÃO DO SUL DO BRASIL..............................................................23
2.2 – A IMIGRAÇÃO EUROPÉIA PARA O SUL DO BRASIL..................................24
2.3 – A MIGRAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL PARA SANTA CATARINA.......26
2.3.1 – A COLONIZAÇÃO GAÚCHA NA REGIÃO DA FRONTEIRA...............26
CAPÍTULO III
3.1 – A FRONTEIRA.....................................................................................................30
3.2 – DIFERENTES OLHARES SOBRE A FRONTEIRA...........................................31
3.2.1 – OLHAR POSITIVISTA................................................................................31
3.2.2 – OLHAR OLÍSTICO......................................................................................32
3.2.3 – OLHAR FENOMENOLÓGICO...................................................................33
3.2.4 – OLHAR DIALÉTICO...................................................................................34
3.3 – HISTÓRIA ORAL: ENTREVISTAS....................................................................37
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................56
RESUMO
A formação do povo brasileiro é marcada pela historiografia oficial, esta não
permitiu que importantes elementos de identidade cultural e que a história de diversos
povos fosse reconhecida devido ao fato do positivismo reconhecer apenas grandes feitos
históricos. A formação étnica do Brasil, assim como a formação da região oeste e do
extremo-oeste de Santa Catarina foram marcadas por esse pensamento historiográfico
gerando conflitos étnicos e sociais os quais apresentam conseqüências drásticas na vida de
grupos minoritários levando-os a exclusão nos seguintes aspectos: sociais, econômicos e até
mesmo territoriais, sem poderem permanecer em seu lugar de origem. Para exemplificar
grifa-se o indígena e o sertanejo sendo que os fatos se repetem, primeiramente ocorre com a
chegada do europeu ao Brasil mais especificamente na costa brasileira em 1500 e mais
tarde com a chegada do colonizador no extremo oeste catarinense. O colonizador
impulsionado pelo positivismo, em nome do progresso, ultrapassa todos os limites da
natureza para alcançar seus objetivos, não percebendo que sua atuação desenfreada com
relação aos recursos naturais lhe traria conseqüências no futuro, as quais podem ser visíveis
no que se refere ao empobrecimento do solo causado pelo desmatamento e uso excessivo de
agrotóxico, a poluição das águas e conseqüentemente a má qualidade de vida das presentes
e futuras gerações. É importante ressaltar que o homem sertanejo vivia em situação de
abandono em todos os sentidos, a estrutura política da época fortalecia o poder da burguesia
aumentando a pobreza. A formação do povo do extremo-oeste assim como a do Brasil se dá
dentro de uma multiculturalidade, embora exista uma heterogeneidade cultural no Estado
de Santa Catarina pode-se afirmar que as diferentes etnias contribuem para com o
enriquecimento cultural da região com destaque, no âmbito estadual, por apresentar
diversidades culturais. Essa diversidade possibilita uma relação amistosa entre os grupos
sociais independente de religião, nível socioeconômico e ideologia política fazendo valer a
democracia. Através da revisão bibliográfica e, nas diferentes visões dos autores que
abordam a formação do Brasil o enfoque principal se dá para a história oral que dentro da
nova história aborda os fatos contextualizando-os do local para o global e vice-versa, dando
ênfase a história dos excluídos do contexto nacional dentro da história oficial, dentro desta
perspectiva a história da formação étnica da fronteira é investigada, os fatos são relatados a
partir de várias visões mas dando ênfase aos que de fato mais contribuíram na construção
da história local que são os oprimidos, os excluídos, aqueles que nunca tiveram vez e nem
voz. O território em que hoje existem três cidades era terra de “ninguém” até ser
demarcada, passando a ser limite entre dois países e dois Estados, começando a receber
contingente de várias partes, tanto do Brasil como da Argentina. A vinda dessas pessoas
contribui na formação das cidades da fronteira em todos os âmbitos.
Palavras chave: Educação, Cultura, Etnia, Ética, Memória e Historia oral.
INTRODUÇÃO
Para determinar nosso objeto de estudo foi necessário sintetizar, limitar nossa área
de estudo, neste caso a presente pesquisa aborda a formação do povo brasileiro relacionado
com a formação do povo sulino, e em especial a formação da fronteira no Estremo Oeste de
Santa Catarina.
Toma-se como ponto de partida a revisão bibliográfica e a história oral onde o
objeto de estudo é regido pelo conhecimento propondo que o conhecimento deva-se ocorrer
dentro da transversalidade incluindo as diferentes culturas, os costumes, as tradições e o
modo de vida de cada comunidade ou grupos sociais.
Racionalmente falando a verdade dos fatos tem por única lógica, norma e origem a
razão sem necessidade de recorrer à experiências do mundo dos fatos, ao passo que para o
empirismo a verdade tem como norma e origem a experiência do mundo dos fatos, porém,
na presente pesquisa relaciona-se o racionalismo e o empirismo para estudar como ocorreu
a formação dos povos da fronteira. Embora as teorias sejam opostas, elas contribuem, ou
seja, servem de pilares para a ciência social neste caso da História que se encontra baseada
em fragmentos entre o homem e a natureza, entre o sujeito e o objeto.
A história dentro do passado, pensamento moderno e do pensamento
antropocêntrico comete erros quando tende a esquecer, neste momento a história oral pode
fazer o diferencial, resgatando através da mesma o já esquecido ou aquilo que não foi dito
nem registrado. É preciso clareza de pensamento para que a pesquisa possa nos levar a
realidade dos fatos, para que o homem enquanto um ser detentor de conhecimentos possa
melhorar o espaço que ocupa uma vez que a formação moral e o domínio do processo
pedagógico hoje são ditados pela ciência. Assim sendo a educação objetiva a formação das
capacidades humanas, a formação de um cidadão crítico-reflexivo capaz de decifrar o que
lhe deve ou não ser feito. Uma vez que conhecer não significa dominar a natureza, mas
conviver com ela harmoniosamente. Para que essa relação seja efetiva é importante
salientar que somente o diálogo profundo possui força de transformação. Quando for bem
sucedido nos transformará, sendo que o diálogo exige participação dos ouvintes, dos
envolvidos e estes devem estar abertos para as mudanças, aqui as palavras são um conjunto
de falas e de respostas. O ser do homem se funda na fala, mas choca-se no diálogo, postura
essa que exige modificar-se para haver uma real compreensão do modo de ser dos
humanos.
Abordar aqui a pesquisa oral é gratificante uma vez que a memória é um dos
suportes essenciais para a definição dos laços de identidade, que tem por função fazer a
ponte entre o passado e o presente, entre os vivos e os mortos, trazendo o passado à luz do
presente para a partir daí construir a identidade cultural de um povo. A sociedade serve
como referência de memória, onde a localização espacial e temporal são essências da
memória, fato comprovado a partir das entrevistas realizadas, nas quais demonstram a
grande importância dos relatos históricos vividos pelos entrevistados, dando ênfase às
memórias sociais, quando se percebeu a diferença entre memória e esquecimento
apontando as implicações deste último. Onde através da memória os entrevistados
expressam seus laços afetivos de pertencimento, provando que a memória é aberta e
encontra-se em permanente evolução.
A finalidade maior da pesquisa na educação é desenvolver conhecimentos para
buscar a transformação do sujeito, por isso a ética deve ser o condutor que sustenta a busca
do conhecimento, sendo que a educação em sua plenitude tem como objetivo elevar o ser
humano, a ser cada vez mais humano, educar sempre com alteridade, reconhecendo o outro.
A pesquisa em História é: compromisso, ética e diálogo profundo.
A pesquisa foi realizada através da revisão bibliográfica e entrevistas (história
oral).No primeiro capítulo, aborda a formação do Brasil como um todo, no segundo relata
as migrações e imigrações e suas contribuições para a formação do povo brasileiro. Já no
terceiro trabalha, a formação dos povos da fronteira formada pelos municípios de Barracão/
PR, Bernardo de Irigoyen República Argentina e Dionísio Cerqueira/ SC. Através de
entrevistas com cidadãos moradores nos três municípios que remontamos a história da
formação da fronteira abordando: a cultura, os costumes e acontecimentos vivenciados
pelos entrevistados.
A presente pesquisa tem como objetivo geral compreender o processo de formação
étnica do Brasil, uma vez que o tema é de grande importância para conhecermos a nossa
história, buscando sempre contemplar os seguintes objetivos específicos: Analisar o
etnocentrismo europeu a partir da invasão da América, buscando entender o porque da
busca de novas terras, compreender a ocupação das terras brasileiras, como ocorreu esta
ocupação, causas e conseqüências da mesma. Estudar a cultura dos primeiros habitantes do
Brasil, para que através do conhecimento desta saber quais suas contribuições para com a
cultura do povo brasileiro. Entender a vinda dos africanos por meio do tráfico para
trabalhar como escravos na monocultura, relacionando a contribuição destes nos aspectos
econômicos, culturais e sociais. Pesquisar a contribuição dos imigrantes do sul do Brasil na
formação étnica, buscando sempre relacionar com a formação cultural do Brasil. Também
compreender o racismo como resultado do etnocentrismo europeu, sua superioridade
econômica e o choque cultural, levando em consideração todas as formas de racismo
presentes nas diversas etnias que formam o Brasil, bem como, destacar a grande
importância da diversidade étnica deste país como riqueza cultural sem igual em qualquer
outra nação.
Os resultados da pesquisa encontram-se registrados através das entrevistas
realizadas e transcritas no terceiro Capítulo, sendo que estes mostram em específico a
formação das cidades da região fronteiriça formada por: Barracão - PR, Bernardo de
Irigoyen - República Argentina e Dionísio Cerqueira - SC.
CAPITULO I
1. COLONIZAÇÃO DO BRASIL
INTRODUÇÃO
A formação do povo brasileiro é resultado da miscigenação de várias etnias e a
fusão de culturas diferentes, apesar de predominar a cultura européia em nossa sociedade, o
costume dos povos que formaram o Brasil ficou impregnado em nossa cultura. Temos parte
da cultura dos negros, dos índios e dos imigrantes que para aqui vieram nos séculos XIX e
XX. Essa herança cultural preservou parte da cultura de povos que quase desapareceram
pela falta de consciência dos colonizadores. Muito se perdeu com a quebra das culturas dos
índios e dos negros, apenas pequena parte dessas culturas foi absorvida pelos brasileiros.
A forma que o Brasil foi povoado teve como resultado a miséria de grande parte do
povo, o alto índice de analfabetismo, o assustador número de favelas nas cidades, a enorme
divida pública do país, a descaracterização da maioria dos políticos, a grande concentração
de renda, a violência no campo e na cidade e a desesperança de um povo lutador, mas que
caiu no desânimo deixando de acreditar numa transformação do Brasil capaz de melhorar
substancialmente a vida dos trabalhadores desse imenso país.
Podemos destacar alguns pontos que resultaram da formação da nação brasileira:
Logo na colonização as terras foram distribuídas para os ricos;
Os donos das terras da colônia tinham grande influência política junto à metrópole;
Portugal levava todas as riquezas da colônia, tanto as naturais, como as produzidas
pela mão-de-obra escrava;
O Brasil se torna independente numa manobra feita pelo próprio império português;
Fomos o último país do mundo a abolir a escravidão. Quando isso aconteceu, os
escravos foram libertados sem direito a nada, formando as primeiras favelas. Apesar
de que os Estados Unidos já tinham libertado seus escravos muitos anos antes
mediante uma sangrenta guerra que quase dividiu o país, a libertação aconteceu
junto com uma reforma agrária que assentou os negros libertos.
Nos tornamos República, sendo o último país da América, também sem luta, do
“jeitinho brasileiro”.
Nasce então a República e o povo mal ficam sabendo, onde acontece apenas uma
transferência de poder do imperador para os coronéis que passam a controlar o
povo, que não adquire o mínimo de direitos. Os primeiros anos de República são
repletos de revoltas que até hoje envergonham o Brasil como: a guerra do
Contestado e Canudos, que surpreenderam o país pela brutalidade como foram
reprimidas pelo exército brasileiro custando a vida de muitos patriotas.
A República do café contemplava apenas os produtores desse produto para a
exportação, Eram eles que dominavam a política nacional, sendo que logo se
juntaram com os criadores de gado de Minas Gerais para formarem uma coalizão
política que visava apenas seus próprios interesses.
Mineiros para formarem a República do café com leite e o povo continua sendo
explorado na sua passividade, sendo que grande é a corrupção no Brasil e o país que
fora dependente de Portugal, torna-se dependente da Inglaterra, para mais tarde se
tornar dependente dos EUA e do capital estrangeiro.
O povo brasileiro é alegre, trabalhador e humilde, vive seu sofrimento sem exigir
seus direitos. Você já se perguntou por que temos tantos pobres e poucos tão ricos no
Brasil? Os filhos dessa terra nasceram no sofrimento e se acostumaram a misérias e nunca
tiveram a oportunidade de melhorar sua condição social, onde são explorados em todos os
sentidos da vida, por não terem acesso à educação merecida, mas sim a ignorância não
desejada.
Temos políticos corruptos que nunca saem do poder, nunca são punidos por seus
crimes de corrupção por representarem o poder, mesmo aqueles que não são das elites
dominantes, mas quando chegam ao poder unem-se aos ricos para compartilhar da
corrupção esquecendo de onde vieram, negando sua própria realidade, suas raízes.
Fatos extremamente importantes para conhecer e então passarmos a entender a
formação étnica do Brasil. A maneira como foi formado o Brasil reflete na organização
social, nas desigualdades sociais e na forma como se aplica a lei nesse país.
A Europa foi o “centro do mundo” desde a antiguidade, com seus impérios
poderosos que dominaram o mundo. Primeiro o Império Macedônico de Alexandre Magno
que elevou o ego daquele império espalhando sua cultura e sua língua por todos os povos
dominados [...]
Roma formou um império ainda maior, mais próspero e mais duradouro do que o
império macedônico.
O domínio romano colocou Roma e a Europa ainda mais como centro do
mundo. Uma célebre frase diz: Todos os caminhos levam a Roma. Essa idéia
perdurou durante toda a Idade Média. Em função da religião, o domínio
romano atingia todos os níveis. Do nível econômico, cultural, religioso e
intelectual, os povos ocidentais que não aceitassem o jugo romano teriam que
enfrentar seu poder.(Santos, 1998. p.18).
Os primeiros invasores da América (Espanha e Portugal), eram chamados de reinos
católicos e tinham a benção do papado. Esse fato os enchia de orgulho e fazia-os acreditar
que eles eram o centro de tudo e os outros povos (não cristãos) não eram civilizados ou na
melhor das hipóteses eram pouco civilizados.
Os portugueses tinham algo mais do que se orgulharem, um país mercantilista que
já havia conquistado a África; foi o primeiro país da Europa a se tornar um reino unificado,
ou seja, a se tornar um Estado moderno. Portugal apesar de possuir um território pequeno e
em 1500 contar apenas com um milhão de habitantes (Ribeiro. 1995. p125), saiu na frente
nesses aspectos. Em 1530 a expedição de Pedro Álvares Cabral desembarcou na costa do
que hoje é o Brasil, encontrando aqui uma civilização que chamaram de índios. Este povo
vivia em comunidade, sendo que viviam da caça, pesca e uma agricultura muito limitada,
cultivavam apenas milho, mandioca e inhame.
Os portugueses saíram na frente nas suas conquistas, começou por Ceuta, em
1415, e continuaram durante o século XV, com a conquista de ilhas e regiões
litorâneas da costa africana, como a ilha da Madeira, o cabo Bojador, o
Senegal, o arquipélago de Açores e a ilha do Cabo Verde, explorando
madeiras, ouro, marfim, e capturando os homens africanos, tidos como
inferior, forçando-o a trabalhar em canaviais nas ilhas do Atlântico e, a partir
de 1441, levando-o a Portugal. (Harmonia do Universo, apud Positivo. 2003.
p. 18).
Os portugueses que muito tempo antes do descobrimento da América já haviam
“conquistado” outros povos e submetido-os a escravidão por considerarem a raça negra
inferior, o fato de que os africanos não serem cristãos e possuírem a cor da pele diferente da
do europeu, somado à sua cultura tribal elevou o ego português e europeu. A Europa do
século XVI vivia a euforia da mudança no sistema de produção, o aprimoramento das
técnicas de produção, a expansão mercantilista davam aos portugueses e aos europeus a
sensação de serem o centro do mundo, criando o etnocentrismo, todos os outros continentes
seriam periféricos e selvagens segundo o pensamento europeu, não admitindo que os povos
americanos fossem civilizados:
Durante a Idade Média (do século XV ao XVI), os europeus consideraram
inferiores os não-cristãos – árabes, maometanos; africanos, inclusive egípcios;
judeus de qualquer parte do globo; e asiáticos, inclusive chineses. Os
europeus só haviam mudado de opinião a respeito dos germanos, francos e
eslavos, os bárbaros de antes: é que tinham se convertido à fé de Cristo.
(SANTOS, 1988. p. 21.).
A citação acima explica por si só o pensamento europeu na época do descobrimento
do Brasil, para os europeus todas as culturas e religiões não cristãs eram inferiores. Por isto
deveriam ser cristianizados, podendo desta forma ser submetida inclusive a escravidão, fato
que aconteceu com os africanos capturados como animais, que eram trazidos para a
América onde eram escravizados; porém a maior crueldade foi cometida contra os
aborígines das América, estes invadidos pelos europeus que roubaram suas riquezas,
destruíram sua cultura, muitos foram caçados como animais selvagens sendo submetidos à
escravidão, os que se rebelavam eram mortos, tudo isto em sua própria terra. O grito
abafado do índio jamais ecoou no mundo. A espoliação do índio e do negro dura enquanto
estes durarem, é como uma cicatriz: a ferida seca, mas a marca fica para sempre.
Tanto os índios como os negros foram catequizados pela Igreja Católica Romana,
mas parece que o tratamento dos europeus em relação a eles não mudou, pois eles
continuaram sendo discriminados e escravizados pelo branco católico em “nome de Deus”
e com a “benção do Vaticano”. Os portugueses precisavam escravizar toda a mão-de-obra
possível, principalmente para o trabalho mais pesado, conforme citação a seguir:
É compreensível, assim, que jamais se tenha naturalizado entre gente
hispânica a moderna religião do trabalho e o apreço à atividade utilitária. Uma
digna ociosidade sempre pareceu mais excelente, e até mais nobiliante, a um
bom português, ou a um espanhol do que a luta insana pelo pão de cada dia. O
que ambos admiram como ideal é uma vida de grande senhor, exclusiva de
qualquer esforço, de qualquer preocupação.(HOLANDA, 1989. p. 21).
Os portugueses, acostumados ao mercantilismo, as guerras e a aventura, não eram
agricultores por excelência, não trabalhavam em sistema cooperativo, o lucro fácil era
sua maior pretensão, no qual encontra aqui produtos de interesse comercial e achar
metais preciosos de grande valor era o principal objetivo dos portugueses. Outro
objetivo era converter outros povos à religião católica, como dá a entender trechos da
carta de Pero Vaz de Caminha.
Até agora não podemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de
metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muitos bons ares...
Contudo o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta
gente. E esta deve ser a semente que vossa alteza em ela deve
lançar...(Desafios do Conhecimento, apud. Positivo, 2003 p. 18.).
No período de 1500 a 1535, conforme já vimos, teve como principal atividade
econômica à extração do pau-brasil. O desinteresse dos portugueses em colonizar estas
terras tinha uma explicação: a ausência de metais preciosos nas terras conquistadas e os
grandes lucros obtidos com o comércio com as Índias, somado a falta de gente para povoar
as novas terras adiaram a fixação dos portugueses no Brasil. Somente a partir de 1535 os
portugueses começaram a colonização das novas terras, isto devido ao medo de perder a
posse da terra para outros países pela falta de ocupação.
Os portugueses lançaram-se à produção agrícola, a princípio usando o índio como
mão-de-obra escrava, porém, o índio se mostrou indomável, passando a resistir aos
invasores.
Os portugueses já aqui instalados começaram a devastação da floresta para o plantio
da cana-de-açúcar. O açúcar era muito valorizado na Europa. Naquela época, começava o
plantio da monocultura no nordeste brasileiro. Para este sistema de produção se necessitava
grande contingente de trabalhadores e, como o índio não se adaptou a monocultura, muita
menos ao sistema escravista, a única alternativa dos donos de engenho foi importar mão-deobra,
ou seja, trazer negros como escravos. A partir de 1570, milhares de africanos estavam
integrados em atividades produtoras no Brasil. A mão-de-obra africana trazia uma série de
vantagens: o lucrativo tráfico de escravos; a experiência dos negros em agricultura;
dificuldade de fuga por que os africanos não conheciam o território.
Segundo Stuart B. Swchurtz:
Entre 1570 e 1600 entraram no Brasil cerca de 104.000 escravos, perfazendo
uma média anual de 3.467 cativos. Os negros foram trazidos ao Brasil como
escravos. Oriundos de várias regiões da áfrica, 40 a 50%, dos cativos morriam
durante a longa viagem nos porões dos navios. (Stuart, 2002, p. 29).
Como podemos ver, os africanos eram tratados como animais pelos europeus. Com
a vinda dos negros começou a miscigenação do branco com o negro, tendo como resultado
o mulato, começando o branqueamento da raça. Apesar da mistura das etnias, os europeus
não deixaram de ser preconceituosos com relação ao índio e ao negro.
O Brasil recebeu e continuam recebendo todas as classes de gente, provenientes de
todas as partes do globo. Todos defendem a sua etnia e sua cultura e conseqüentemente são
alvos de racismo, mas também praticam o racismo. Porém, nenhuma etnia foi mais
subjugada e explorada nestas terras do que o índio e o negro. Os portugueses e os espanhóis
os consideravam raça inferior, quando consideravam os mesmos como seres humanos.
Os negros foram utilizados em todas as atividades na condição de escravos, sob um
regime desumano os negros eram submetidos a toda a sorte de humilhações. Os castigos
eram severos e variados:
João Fernandes Vieira, um dos “heróis” da guerra contra os holandeses,
estabeleceu o seguinte ritual de tortura: depois de bem açoitado, o mandará
picar com navalha ou faca que corta bem, e dar-lhe a com sal, sumo de limão
e urina, o meterá alguns dias na corrente. Negros eram jogados vivos nas
caldeiras de açúcar. Outros eram besuntados com mel e depois expostos a
picadas de mosquitos. Tal barbárie justifica o pensamento europeu. (Desafios
do Conhecimento, apud Positivo, 2003. P. 25),
Em 1500 os portugueses desembarcaram no litoral brasileiro, sendo que os
integrantes desta expedição ficaram perplexos ao encontrarem os habitantes da terra, ao
mesmo tempo os índios ficaram espantados com visitantes que usavam roupas, eram
barbudos, fétidos e muito abatidos pela longa viagem através do oceano. Os índios
causaram perplexidade aos visitantes por serem o oposto: viviam nus, eram perfeitamente
fortes e alegres dando aos visitantes a impressão de que haviam chegado ao paraíso. O
comportamento dos índios e a abundância de alimentos que a terra brasileira tinha
confirmava a história bíblica de Adão e Eva no paraíso, somada a amabilidade dos índios
com os estranhos visitantes. O primeiro contato entre essas duas civilizações tão diferentes
foi de cordialidade. Mas os europeus não possuíam a simplicidade eram muito sagas e
prepotentes, seus valores eram opostos aos valores dos índios e os princípios eram outros.
Depois de algum tempo os colonizadores começaram a demonstrar a que vieram, pois esses
não chegaram de mãos vazias, traziam consigo artigos que os índios não conheciam:
espelhos, ferramentas de metal, colares e outras bugigangas serviam como atrativo para o
comércio que nascia entre portugueses e os índios, fato que começaria a alterar a vida dos
habitantes da terra onde viviam, dela e para ela.
Com o passar do tempo portugueses começaram a pôr em prática sua missão.
Começaram as extrações do pau-brasil, no qual o negócio do pau-brasil rendia muito lucro
aos portugueses que usavam os índios na extração dessa importante mercadoria. Em troca
lhes pagavam com mercadoria barata, construindo uma necessidade de aquisição por parte
dos índios das já mencionadas mercadorias. Esse comércio durou 30 anos e houve razoável
relacionamento entre índios e europeus. Durante esse período os portugueses não perderam
tempo, aparentavam-se com os índios através do casamento, homens portugueses casavamse
com várias mulheres índias.
Os padres começaram a catequizar os índios para mantê-los sob seu domínio
ideológico e espiritual. A base para o domínio colonial estava sendo implantada através de
todos os meios possíveis, inclusive a criação de intrigas entre povos indígenas rivais que
culminavam em guerras entre índios.
Os europeus acreditavam ser o único povo civilizado, detentor da única religião
verdadeira: as religiões católicas, por possuírem técnicas mais avançadas acreditavam que
eram superiores aos outros povos e que tinham o direito de colonizar outras terras e
escravizar os povos que nelas habitava.
Os portugueses saíram na frente na modernização do Estado, sendo os primeiros a
se unificar e tornar-se um Estado moderno. Também saíram na frente no mercantilismo e
na colonização. Portugal, em 1441, já possuía colônias na África e já havia escravizado
muitos negros. Para os portugueses o índio representava apenas um objeto de mão-de-obra
barata e jamais foram vistos como donos da terra ou como um povo. O etnocentrismo
português era supremo, tão supremo como sua missão de salvar o gentio, de levá-lo ao
cristianismo. Para isso a ordem Sagrado Coração de Jesus, (os Jesuítas), faziam muito bem
seu papel colocando os índios entre a “cruz e a espada”, fazendo-os admitir uma culpa que
eles desconheciam. A citação a seguir expressa bem o etnocentrismo europeu e seu
pensamento com relação ao índio e ao tratamento dos europeus à gente da terra. Gines
Sepúlveda intelectual espanhol compara os índios a macacos e a porcos:
Os europeus têm todo o direito de exercer seu domínio sobre esses
bárbaros do Novo Mundo e ilhas adjacentes, os quais em
prudência, inteligência e toda a espécie de virtudes e sentimentos
humanos são tão inferiores aos europeus quanto às crianças com
relação aos adultos, as mulheres com relação aos homens, pessoas
cruéis e desumanas em relação à pessoas mansas, pessoas
desequilibradas com pessoas equilibradas; e enfim, estou prestes a
admitir que com relação aos europeus estão na posição de macacos
em relação aos homens [...]. São como porcos: estão sempre
olhando para o chão, como se nunca tivessem visto o céu.
Tudo isto não prova que eles são escravos de natureza? [...] Esses
homenzinhos tão bárbaros, tão incultos, tão desumanos. (Desafios
do Conhecimento, Apud. 2003).
Os europeus acreditando-se superiores aos habitantes da terra recém descoberta
justificavam sua exploração na comercialização com os índios. Logo esse pensamento
serviu para justificar a escravidão dos índios e o genocídio nas chamadas guerras justas
aprovadas até mesmo pela Igreja Católica.
Enquanto os índios ficaram impactados pela chegada dos europeus, estes
fundavam um acontecimento jamais visto por aqueles, só assimilável pela
visão mítica do mundo. Seriam gente de seu deus sol, o criador – Maíra – que
vinha sobre as ondas do mar; tanto poderiam ser ferozes como, pacíficos
espoliadores ou dadores. (Ribeiro. 1995. p. 42).
No primeiro contato os índios acreditavam que se tratava de pessoas dóceis,
amistosas... Para eles era mais importante dar do que receber e jamais alguém espoliava o
outro. Com esse pensamento muitos índios não pensaram duas vezes em embarcar na
primeira embarcação que o levasse à terra sem males, morada de seu deus, sendo que todos
os que foram à Europa serviram de espetáculo e foram escravizados. De 1500 a 1535 os
portugueses comercializaram com os índios, até o momento que começa a colonização e a
sorte dos índios muda drasticamente, fato esse que pode ser mais bem entendido a partir da
colonização e do cunhadismo.
Em 1535, Portugal começa a colonizar o Brasil. Com medo de perder essa
imensidão de terras para outras potências da Europa que reclamavam a partilha das terras
recém descobertas, Portugal se apressou em povoar o Brasil. Mas como povoar tamanha
extensão de terras, se Portugal contava apenas com um milhão de habitantes e o
contingente que vinha para a América deixava uma lacuna em Portugal, esse problema foi
resolvido pelos portugueses através da escravização dos índios. Depois do pau-brasil o
índio foi a principal mercadoria de exportação à metrópole, porém pouco mais tarde os
índios se dão conta da armadilha em que caíram, pois não querendo se submeter ao invasor
fugiam mata adentro, muitos cometiam suicídio e outros ainda lutavam por sua liberdade
com suas precárias armas. Um padre espanhol escreveu em seu diário que as armas dos
índios comparados com as dos europeus pareciam brinquedos de criança.
Nesses 35 anos de relacionamento entre europeus e indígenas surgem os brasilíndios
da origem a miscigenação ou mamelucos, filhos de pais lusitanos e mães índias, não sendo
totalmente brancos, nem totalmente índios. O brasilíndio passou a ter papel importante no
povoamento do Brasil, sendo muito usado nas bandeiras e monções adentrando sertões em
busca de índios para escravizá-los. Falavam os idiomas dos índios, conheciam a floresta e
tinham muita resistência para agüentar longos meses e até mesmo anos de caça aos índios.
Os indígenas eram a única mercadoria disponível aos portugueses, principalmente os
paulistas que empreendiam longas viagens através da selva para capturá-los. Os índios
eram vendidos no mercado como uma simples mercadoria ou eram usados para abrir roças,
caçar, pescar, todo o tipo de trabalho que produzissem tudo o que comiam. Esse ofício de
caçador de índios se tornou gênero de vida para os paulistas, ao se extinguirem as tribos
mais cercanas os caçadores de homens passaram a buscá-los cada vez mais longe através de
matas e campos naturais. Muitas vezes plantavam roças ficando meses num lugar
esperando colher mantimentos para poder seguir viagem a pé, descalços, remando as
canoas das monções, percorrendo rios até então desconhecidos. Essa atividade rendeu
muito dinheiro aos bandeirantes, mas também ocasionou muitas guerras, a vida dos
brasilíndios era uma aventura total. Muitos jamais voltavam as suas casas, morriam nas
batalhas com os índios, outros eram mortos por animais selvagens ou ainda por doenças
como a malária, por outro lado esses mamelucos continuavam a proliferar a miscigenação
mata adentro.
Os índios viviam em tribo, o relacionamento era entre todos os membros da
mesma, todos eram educados nesse reduto mantendo pouco ou nenhum contato com as
outras tribos, apesar de falarem a mesma língua em alguns casos, as tribos não eram
federalizadas, cada tribo tinham seu chefe e suas leis. Mas os índios tinham uma velha
prática que beneficiou a entrada dos portugueses na convivência indígena: o cunhadismo.
Segundo Ribeiro (1997). Os europeus que aqui se estabeleceram eram poucos e a metrópole
não tinham gente suficiente para povoar a imensidão de terras que:
Com base no cunhadismo se estabeleceram criatórios de gente
mestiça nos focos náufragos e degredados se assentaram. Primeiro,
junto com os índios nas aldeias, quando adotam seus costumes,
vivendo com eles, furando os beiços e as orelhas e até participando
de cerimônias antropofágicos, comendo gente. Então aprendem a
língua e se familiarizam com a cultura indígena. Muitos gostaram
tanto, que deixaram-se de ficar na boa vida de índios, amistosos e
úteis outros formaram unidades apartados das aldeias, compostas por
eles, suas múltiplas mulheres índias seus numerosos filhos sempre
em contato com a incontável parentela delas. (Ribeiro,1995. p.83)
A citação acima nos dá uma idéia bastante clara a respeito da formação do povo
brasileiro e a forma como isso aconteceu. Paralelamente à colonização, a mestiçagem
proposta pelo branco que era composta quase que absolutamente por homens. Aceita pelo
índio como uma prática antiga de parentesco fazia essa possibilidade se tornar realidade. O
que começou como uma resolução de necessidades biológicas, se transformou num negócio
próspero e de vital importância para colonização. Com o decorrer dos anos a prática do
cunhadismo se transformaria na formação do povo brasileiro. Cada europeu vindo à colônia
podia fazer vários casamentos. A instituição funcionava como uma vasta forma de
recrutamento de mão-de-obra para os trabalhos pesados de cortar e carregar pau-brasil e
outras tarefas que exigiam esforços físicos, trabalho que os portugueses não queriam fazer
por acharem-se superiores ao índio. Com base no cunhadismo se formou verdadeiro
criatório de gente mestiço para suprir a demanda de mão-de-obra. Através da prática do
cunhadismo começava a ser criados núcleos, sendo que o primeiro e principal desses
núcleos é o paulista, assentado muito precocemente na costa. Centrava-se ao redor de João
Ramalho e de seu companheiro Antônio Rodrigues. Esses se especializaram na captura de
índios para vender a navios mercantes. O povo de Ramalho teve vários visitantes que o
retratavam onde:
O aventureiro alemão Ulrich Schmidel que visitou a povoação de João
Ramalho em 1553, disse que se sentia mais seguro numa aldeia de índios do
que ali, naquele covil de bandidos. Informa ainda que Ramalho era capaz de
levantar cinco mil índios de guerra, enquanto o governo de Portugal não
conseguiria nem dois mil. (Ribeiro 1995 p.125).
Observa que os índios também expressavam confiança e que muitos dos
aventureiros passaram a conviver com eles e deles tirarem proveitos para a formação de
núcleos. Outro núcleo pioneiro de grande importância foi o de Diogo Alves na Bahia,
também cercado por várias famílias. Alves se fixou naquela região em 1510, vivia
cunhadalmente com a indiada mantendo o equilíbrio entre os índios e os lusitanos que
foram chegando. Desta maneira converteu-se na base essencial da instalação lusitana na
Bahia, ajudou até mesmo os jesuítas, deixou bens a eles em seu testamento.
Um terceiro núcleo de grande relevância foi o de Pernambuco, em que vários
portugueses associados com os índios Tabajaras, produziram quantidade de mamelucos.
Os franceses igualmente formaram seus criatórios ganhando enorme influência
sobre os índios usando a mesma prática do cunhadismo. Segundo Capistrano de Abreu
durante muito tempo não se sabia se o Brasil seria português ou francês devido a enorme
quantidade de mamelucos produzidos por eles fortalecendo sua presença no Brasil.
O cunhadismo foi de extrema importância na colonização do Brasil por possibilitar
grande quantidade de gente mestiça, mas também amedrontou a Coroa portuguesa. Para
fazer frente à ameaça de perder o domínio sobre as terras conquistadas, a Coroa implantou
o regime dos donatários, quase todos os contemplados vieram tomar posse e povoar as
terras recebidas da Coroa inaugurando um novo sistema de produção: a monocultura
colonial. Com isso aumentou a necessidade de escravizar os índios. Porém para executar
esses serviços era preciso mão-de-obra adequada e abundante. Era necessário trazer o negro
que a partir daí passa a ser a principal mão-de-obra para os engenhos e plantações de outras
culturas em série, reforçando a formação do povo brasileiro.
Nesse ínterim já era grande a quantidade de mamelucos resultantes da miscigenação
entre branco e índio, esse contingente passou a trabalhar nas mais diversas funções como
mão-de-obra livre. Em sua maioria eram peões pastoris, mineiros, caçadores de índios,
soldados, capataz, funcionários públicos de baixo escalão. Mas o grosso dessa massa
formava a ralé da sociedade, analfabeta e sem profissão definida. Assim foi se formando o
povo brasileiro, desde a colonização dessa imensidão de terras que se chama Brasil. É
notória a presença do racismo e preconceito na formação do povo brasileiro, fato esse que
será abordado no texto a seguir.
1.2 RACISMO NO BRASIL
Como podemos conceituar o racismo? Segundo o dicionário (Ximenes, Mini-
Dicionário da Língua Portuguesa. p.784). O racismo é uma doutrina que sustenta a
superioridade de certas raças, ou ainda preconceito ou discriminação em relação a
indivíduos considerados de outras raças. Ao longo da história o racismo foi cultivado,
principalmente com relação à cor da pele. Na Europa predominavam os “brancos”, os de
pele escura sempre foram discriminados. No entanto, em determinados momentos todos os
que não pertenciam à mesma etnia eram alvo de racismo. Para os gregos todos os que não
possuíam sua cultura eram desprezados e tidos como inferiores; para os romanos
(convertidos ao cristianismo) os que não fossem católicos eram perseguidos... Para os
europeus da Idade Moderna os africanos não passavam de massa humana aproveitável para
o trabalho escravo e os índios tinham a mesma sorte ou ainda pior. Os teólogos da Igreja
Católica passaram cem anos discutindo se o índio possuía alma ou não, mostrando dessa
maneira o racismo e o preconceito que o Vaticano tinha em relação ao índio. Supostamente
a Igreja Católica tinha como objetivo principal catequizar os índios das terras
“conquistadas”, mas eles mesmos não acreditavam que os índios pudessem se tornar
cristãos.
O racismo sempre esteve presente nas sociedades, porém muitos tipos de
preconceitos podem ser taxados de racismo, são aqueles que discriminam outras etnias, ou
os que excluem pela cor da pele, ou pela condição social e aqueles que julgam pela
condição econômica. Hoje a forma de racismo mais comum é a econômica, se o indivíduo
possui muito dinheiro não importa a cor ou a etnia a qual ele pertence ele pode ser inserido
na sociedade, mas se ele não possui uma boa situação econômica seja de qual etnia for não
consegue penetrar na alta sociedade torna-se alvo de discriminação e preconceito pela
sociedade dominante. O poder econômico é o primeiro requisitos exigidos pela sociedade
para a inserção de um indivíduo, para emergir de classe o dinheiro é o passaporte que
permite essa passagem.
Durante a segunda Guerra Mundial a Alemanha sob o comando de Adolf Hitler
cometeu os mais absurdos crimes para promover a raça ariana, tentando provar que os
arianos eram superiores as outras raças. Hitler pretendia purificar a raça ariana, em
conseqüência exterminou cerca de seis milhões de judeus em nome da raça pura. Os
imigrantes italianos e alemães que vieram para o Brasil no século XIX pensavam que eram
superiores aos que habitavam esta terra, se sentiam melhores, não se misturavam,
desprezavam as outras pessoas por serem de culturas diferentes.
O racismo é destrutivo, não permite a difusão das culturas, sempre prejudicando o
diferente, o outro, sobretudo os mais pobres, os índios e os negros. Estas foram as três
categorias mais prejudicadas, são de fato o principal alvo do racismo, juntamente com o
nordestino que freqüentemente é taxado de preguiçoso. Em pleno século XXI o racismo
infelizmente é muito cultivado no mundo inteiro.
1.3 A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
Como já mencionado anteriormente, relembraremos através da citação o que foi a
terra chamada Brasil, no aspecto cultural.
A Terra que hoje se denomina Brasil era povoada por uma civilização que
tinha seu modo de viver, sua cultura, sua religião, seus costumes e suas
próprias leis. Este aborígine foi chamado de índio por homens que aqui
chegaram através do mar. Para os “visitantes” a sua descoberta os
surpreendia, pois, a terra que pisavam parecia um paraíso a predominante
natureza, a amistosidade do povo que habitava estas terras e a nudez do índio
fazia as novas terras se parecerem ao jardim do Éden, o paraíso de Adão e
Eva. Os primeiros contatos foram pacíficos, mas com o passar do tempo os
portugueses começaram a ocupação...
No princípio os índios ajudaram os portugueses na extração do pau-brasil em
troca de quinquilharias como: pentes, machados, espelhos, etc. Como os
brancos portugueses iam povoando a terra e fazendo engenhos de açúcar e
fazendas (e para isto tinham necessidade de muitos trabalhadores),
começaram a fazer uso da mão dos naturais da terra e, o pior é, a cultiva-os
para diversas partes da mesma província.
...Pelo que os pobres Brazis como de sua natureza são tristes e coitados,
entraram em tamanha melancolia que os mais deles morreram e se
consumiram, outros fugiram pela terra dentro... (Desafios do conhecimento,
Positivo, 2003. p. 23).
A presente citação faz transparecer a hostilidade do português em relação ao índio.
O invasor que chega aqui com “técnicas avançadas” de trabalho, com armas de fogo e com
uma convicção de superioridade, primeira desaloja o aborígine de sua terra, logo lança mão
dos mesmos para aproveitar a mão-de-obra nas plantações de cana-de-açúcar, no manejo
dos engenhos. Mas usar o índio como trabalhador escravo para suprir a falta de mão-deobra
não teve êxito. Os índios acostumados a viver em liberdade e em comunidade não se
habituaram ao trabalho sedentário imposto pelos invasores, os verdadeiros donos das terras
revoltaram-se, muitos fugiram, outros se suicidaram e outros foram mortos pelos
portugueses.
Mas, quem ao perder sua terra e ser subjugado não ficaria triste? As tribos litorâneas
foram os primeiros a serem dizimados, na medida que os invasores adentravam ao interior
do país, as tribos iam sendo desmanteladas.
Velho chefe
O desprendimento dos bens materiais do índio brasileiro foi muito admirado
por Jean de Léry, que conta a conversa que teve com um velho índio
tupinambá a respeito dos motivos que moviam os europeus na busca do paubrasil:
Léry explicou que o pau-brasil era utilizado para fazer tinta e não lenha.
O velho retrucou: Precisam de tanta tinta?
- Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem
muitos panos...
- Ah! Retrucou o selvagem, mas esses homens ricos não morrem?
- Sim, disse eu.
- E na falta deles para quem ficam os bens? Perguntou-me o velho índio.
- Respondi-lhe que para os filhos e parentes próximos.
- Na verdade, continuou o velho, vós sois grandes loucos, pois atravessais o
mar e sofreis para amontoar riquezas para vossos filhos. Amamos nossos
filhos, mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu
também os nutrirá; por isso descansamos sem maiores cuidados? (Desafios do
Conhecimento, 2003, p. 213).
A mentalidade mercantilista do português, a sua necessidade de acumular riquezas
em contraste com a visão igualitária do índio é bem retratada, no diálogo acima, entre o
missionário calvinista Jean de Léry, que viveu entre os tupinambás do Rio de Janeiro e um
velho índio a respeito dos motivos que moviam os europeus na busca do pau-brasil.
A invasão dos europeus desorganizou a vida social e econômica dos indígenas e
modificou as relações dos mesmos com a natureza.
Começa a degradação da raça considerada atrasada ao contato da adiantada, sendo
que essa degradação ocorreu em diversos ritmos, conforme a diferença regional de cultura
humana ou conforme riqueza do solo entre os nativos.
Os portugueses defrontaram-se na América com uma das populações mais rasteiras
do continente. Entre os indígenas das terras do “pau-de-tinta”, a resistência ao europeu se
deu através da resistência vegetal. O invasor que se apresenta em menor número foi
contemporizando com o nativo, servindo-se dele para as necessidades do trabalho e
principalmente da guerra. Da conquista dos sertões, os europeus não conheciam os perigos
que as matas apresentavam devido a grande quantidade de feras que havia mata adentro
representando um eminente perigo para o homem branco.
A reação do domínio europeu na cultura dos índios, a princípio foi de simpatia
causada pela ilusão da forma diferente de ser do europeu, mas, ao perceber a real intenção
dos brancos, os índios reagem com hostilidade ao invasor que quer dominá-lo e escravizálos.
A organização da sociedade se deu em base cristã, onde a mulher indígena.
Recém-batizada, esposa e mãe servindo-se em sua economia de vida doméstica das
tradições e experiências... No século XVII observa-se que muitos portugueses, mesmo dos
mais ricos iam buscar mulheres européias para serem suas legítimas esposas, isso
demonstra que já não seria como no primeiro século, essa união de europeus com índios, ou
filhos dos mesmos, por escassez de mulher branca, mas por preferência sexual. Já
Capistrano de Abreu, sugere que a preferência foi mais social que sexual.
O autor Gilberto Freire destaca que por parte das índias a mestiçagem se explica
pela ambição de terem filhos pertencentes à raça superior, pois o parentesco só era válido
pelo lado paterno.
Mesmo que o europeu não teve menor interesse ou a menor ligação livre ou sob a
benção da Igreja, a ela teriam sido levados pela força da circunstância, gostassem ou não de
mulher exótica. Não havia mulher branca e necessitava-se povoar a costa brasileira.
Southey observou que o sistema colonial português foi mais feliz do que os demais
no que diz respeito às relações do europeu com as raças de cor, porém, salientando que
semelhante sistema fora antes “filho da necessidade” do que deliberada orientação social ou
política.
Para colonizar o Brasil, Portugal valeu-se no século XVI dos poucos homens que
lhe deixaria à aventura da índia. Os homens soltos sem famílias, “no meio da indiada nua”,
vinham servir a poderosas razões do Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da
nova terra.
A vida brasileira teve seu início em um ambiente que pode ser chamado de
intoxicação sexual. O europeu pisava em terra escorregando em índia nua, os padres
precisavam cuidar-se e muitos clérigos contaminaram-se.
As mulheres entregavam-se aos brancos, porém, nesse amor foi só o físico, com o
gosto somente de carne e dele resultou filhos que os pais cristãos pouco se importavam de
educar ou criar a moda européia. Mas também houve aqueles que aqui permaneceram e
morreram sem querer retornar ao seu país de origem, dos quais se inçou a terra de
mamelucos, que nasceram, viveram e morreram sem converter-se ao Cristianismo. Hoje há
muitos descendentes, que são louros e alvos. É importante ressaltar que o contingente
francês no povoamento do Brasil não pode ser esquecido.
Assim, como os primeiros portugueses, os franceses deram-se ao luxo de cercar-se
de mulheres.
Porém, é só a partir de meados do século XVI que pode considerar-se formada a
primeira geração de mamelucos, ou seja, os mestiços de portugueses com índios, com valor
social. A mulher gentia não é considerada importante somente pela base familiar, mas
como aquela que ampliou o número de povoadores europeus, sendo então um valioso
elemento como cultura pelo menos material, na formação brasileira. Através da mulher com
os usos e costumes, exemplo as drogas e remédios caseiros que enriqueceu a vida no Brasil.
Ela teve grande participação no descobrimento dos produtos de higiene como por exemplo
óleo de coco para o cabelo, bem como amansou os animais domésticos.
Da cultura indígena nos veio o banho, isto é, a higiene do corpo, já a contribuição
do homem ao desenvolvimento social foi formidável, mas só na obra de devastação e de
conquista dos sertões. Sendo que aí ele foi o guia, o guerreiro, o canoeiro, o caçador e o
pescador. Índios e mamelucos foram os defensores das regiões açucareiras, dos
estabelecimentos agrários dos ataques dos piratas e estrangeiros. Pois nos séculos XVI e
XVII, muitas dezenas e centenas de homens, nos quais esses na sua quase totalidade eram
índios e caboclos tinham que proteger os engenhos de açúcar e viviam em guerra.
Quanto ao seu modo de vida, a enxada na mão do índio e do mameluco não se
firmou, também não houve fixação do mesmo no território. Do indígena somente foi
aproveitado para colonização agrária. No Brasil houve o processo da coivara, a qual
empolgou por completo a agricultura colonial.
A contribuição do índio no trabalho agrário foi quase insignificante. Isto se explica
se considerarmos que a cultura americana ao tempo da descoberta era a nômade, a da
floresta e não a agrícola.
A história indígena não traz dados seguros quanto a sua população. Sabe-se que
quanto a sua origem, às migrações e aos conflitos há muitas controvérsias. O que se sabe é
que existia entre esta população que vivia ou vivem no território convencionalmente
chamado Brasil grandes diversidades culturais, onde os conflitos, as guerras e o contato
pacífico entre eles favoreciam o surgimento de novas culturas, alterassem ou
desaparecessem, seja durante, antes ou depois da descoberta.
A sociedade indígena já apresentava desenvolvimento na agricultura, praticada
pelos tupis, porém esse fato não os colocava em nível cultural superior, pois não há culturas
superiores ou inferiores, mas sim, diferentes entre si.
É importante destacar que os índios construíram sua própria história, porém,
negaram-lhes os reconhecimentos da mesma. Os índios aliavam-se aos brancos para
guerrear conforme conveniências. Estes se aliavam ou não à política indígena, fugiram,
lutaram, morreram e hoje continuam organizando-se e lutando por liberdade, porque o
mesmo depende deles e não do homem branco...Mas a formação étnica se dá também
conforme citação a seguir:
Doce Inferno
Que coisa há na confusão deste mundo mais semelhante ao inferno, que
qualquer desses vossos engenhos? Por isso foi tão bem recebida àquela bela e
discreta definição de quem chamou a um engenho de açúcar doce inferno. E
verdadeiramente quem vir na escuridão da noite àquelas fornalhas tremendas
perpetuamente ardentes. As labaredas que estão saindo aos borbotões de cada
uma pelas duas bocas ou ventas, por onde respiram o incêndio; os africanos
banhados em suor, tão negros como robustos, que administram a grossa e
dura matéria ao fogo, e os forcados com que o revolvem e atiçam; as caldeiras
ou lagos ferventes vomitando espumas, exalando nuvens de vapores; o ruído
das rodas, das caldeiras, da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando
vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo, sem momentos de trégua, nem
de descanso; quem vir e enfim toda máquina não poderá duvidar que é uma
semelhança do inferno...(Harmonia do Universo, Positivo, 2003 p. 25.)
No documento acima citado pode-se observar a verdadeira condição em que viviam
os negros. Para eles nada existia a não ser o trabalho escravo, visto e praticado pelos
mesmos como a visão do inferno, pois não lhes restava alternativa.
Os escravos domésticos possuíam família comum com sete ou oito negros entre
quinze e dezoito anos, que criavam como gado. Fazia-se de um, pedreiro, de outro,
sapateiro, do terceiro carpinteiro, pintor ou alfaiate, para alugá-los a quem tinha
necessidade no fim da semana, sendo que os operários alugados entregavam o ganho
obtido, caso contrário era chicoteado.
No que se refere à mulher negra além de escravas domésticas, eram escravas
sexuais dos homens brancos e a educação que davam seus filhos era baseada na violência,
espancando-os pelas menores falhas que:
De forma geral, a situação feminina era de subordinação. Isso não quer dizer
que todas as mulheres foram submissas.
Estudos recentes mostram que muitas mulheres chefiavam famílias,
trabalhavam em atividades diversas e lutavam decididamente pelos seus
direitos...(desafios do conhecimento, 2003. p.27).
Quanto à educação das mulheres brancas restringia-se por volta de 1815 a recitar
preces de cor e calcular de memória, sem saber escrever nem fazer operações. Somente o
trabalho de agulha ocupava seus lazeres, pois os demais cuidados relativos ao lar eram
entregue sempre às escravas.
No primeiro império, logo após deixar o trono, D. Pedro I embarcou em um dos
escalares da nau inglesa, acompanhado de outros membros da família imperial. Mais tarde,
no ano de 1831, o pintor, os caixeiros viajantes, artistas e estudiosos... Tinham retornado às
suas terras de origem, levando consigo a certeza de mudança e aprendizado durante o
tempo que aqui estiveram. Embora não correspondesse muitas vezes às suas expectativas.
Há também os que voltavam e os que tinham permanecido.
Os negros africanos continuavam chegando transportados como escravos pelos
tumbeiros dos traficantes portugueses. O que se observa é que mesmo o Brasil já tendo
passado da condição de colônia à de reino unido, e de reino unido a império, a vida dos
escravos não mudara. Eles continuavam sujeitos ao trabalho forçado na lavoura, nas minas,
nos serviços urbanos e nos afazeres domésticos e a tardia abolição só chega em 1888.
O trabalho escravo continuava enriquecendo, acumulando poder e dando prestígio a
seus senhores. Suas revoltas e fugas objetivavam atestar uma humanidade sempre negada,
ao mesmo tempo colocava em pânico a população branca, tanto nas fazendas ou cidades.
Já a população livre e pobre permanecia “sem modo certo de vida”, os barões do
café e os grandes criadores de gado traçavam o destino dos trabalhadores do Brasil Na
verdade suas vestes, como a dos escravos não teria mudado, bem como sua forma de vida,
com a abolição da escravidão, chega o imigrante para substituir a mão-de-obra escrava
trabalhando em regime assalariado, mas em condições tão precária quanto a dos escravos.
Porém a motivação do imigrante é outra, impulsionados pelo sonho de possuir seu pedaço
de chão e sua experiência no trabalho assalariado faz do imigrante um operário moderno.
CAPÍTULO II
2.1 COLONIZACÃO DO SUL DO BRASIL
INTRODUÇÃO
Pela escravização dos catecúmenos e sua venda Os primeiros povoadores do
Sul do Brasil são os Jesuítas que formam suas reduções, em seguida os
Bandeirantes interessam-se pela região.
A concentração de grandes massas de indígenas deculturados, uniformizados
culturalmente e motivados para o trabalho disciplinado teve o efeito de
desencadear sobre as missões toda a fúria dos mamelucos paulistas que as
viam como enorme depósito de índios facilmente preáveis. Assim se
liquidaram as primeiras missões aos engenhos açucareiros do Nordeste.
(Ribeiro. 1995. p. 410)
Os jesuítas foram os primeiros a habitar organizadamente o sul do Brasil, formando
as reduções, sendo que as missões abrigavam grandes quantidades de índios que ali viviam
e trabalhavam comumente; para os bandeirantes, as reduções eram alvo fácil para capturar
os índios e vendê-los como escravos aos donos de engenhos, Essa disputa faz com que o
sul comece a ser ocupado. Ao se transferirem para o sul, os paulistas se misturam aos
índios dando seguimento à miscigenação. Outro grupo que ocupa as terras do sul é os
portugueses da colônia de Sacramento que por força da troca de Sacramento pelas sete
Missões começam a ocupar as terras do Rio Grande. Os índios que pertenciam as Missões,
fogem dos espanhóis e dos portugueses que os queriam avassalar adentrando os sertões se
mestiçando, povoando o sul do Brasil no engajamento de sua força de trabalho. Essas
etnias possuem uma coisa em comum: a criação de gado. Essa atividade vai talhando,
moldando o homem sulino que é conhecido como gaúcho.
A característica básica do Brasil sulino, em comparação com as outras áreas
culturais brasileiras, é sua heterogeneidade cultural.
O sul foi uma das últimas regiões do Brasil a ser colonizada, a disputa pela
ocupação territorial entre Espanha e Portugal apressou o povoamento sulino, por esse
motivo o sul do Brasil recebe um contingente diversificado. A dificuldade de povoar a
imensidão de terras pertencentes a Portugal requer a vinda de imigrantes vindo de vários
países, principalmente da Europa, os primeiros a chegarem são os portugueses, mais tarde
chegam imigrantes alemães, poloneses e finalmente italianos. Porém antes da chegada dos
imigrantes que ajudariam a povoar o sul, a presença do caboclo é marcante e fará com que
o gringo se acabocle em seus costumes, destaca Ribeiro:
Essa camada de gringos acaboclados, assim como o demais contingente
marginal do país, constitui uma reserva de mão-de-obra que opera como uma
classe infrabaixa, posta no campo abaixo dos assalariados agrícolas e, nas
cidades, abaixo dos integrados na força de trabalho com empregos
permanentes.(Ribeiro. 1997. p. 442).
2.2 A IMIGRAÇÃO EUROPÉIA PARA O SUL DO BRASIL
Após a independência do Brasil tem início a imigração européia rumo as terras
gaúchas, sendo que os primeiros a chegar são os alemães os quais instalam-se na região de
São Leopoldo – RS. Nesse mesmo período acontece a formação das colônias alemãs de
Santa Catarina: Blumenau e Joinville, e gradativamente vão ocorrendo novas imigrações
para os pontos do sul do Brasil.
Nos anos 80 do século XIX, começa o desmantelamento do sistema escravista no
Brasil, tardio se comparado com outros países. Nesse tempo a cultura que mais crescia e
necessitava de mão-de-obra era o café, produto que o Brasil exportava para a Europa e
outros países, era também o principal produto de exportação, fato que possibilitava grande
influência dos cafeicultores na política nacional.
Com o fim da escravidão escasseia a mão-de-obra, os negros forros resistem ao
trabalho assalariado restando para os produtores de café buscar trabalhadores estrangeiros
para suprir a demanda de mão-de-obra nas lavouras.
A abolição dos escravos, seguida do regime republicano que liquida com a
escravidão e com a fidalguia, não abala o reinado do café, que se faz ainda mais poderoso.
Nesse mesmo tempo a Europa atravessava graves crises econômicas, decorrentes da
unificação da Itália e da Alemanha. Muitos países europeus viviam numa verdadeira
convulsão social e a única saída para os pobres daqueles países era a imigração.
Acostumados a um regime assalariado, esses imigrantes se dispunham a vir para a América,
muitos deles não sabiam distinguir América do Sul da América do Norte, a vontade de
deixar a Europa e sair em busca do sucesso era tanta que se deixavam convencer pela forte
propaganda das novas terras e a possibilidade de prosperidade que iriam encontrar no novo
mundo. Vejamos a citação a seguir:
As primeiras tentativas que procuravam sojigar o imigrante a um sistema
renovado da velha parceria provocaram reclamações consulares e escândalos
na imprensa européia, a que os brasileiros são especialmente sensíveis. Eram
prematuras, porque, apesar das condições de penúria prevalecente na Europa,
o imigrante não aceitava a coexistência com o escravo. Somente após a
abolição, estabeleceu-se uma onda regular e ponderável de provimento de
mão-de-obra européia, que, em fins do século passado,atingia a 803 mil
trabalhadores, sendo 577 mil provenientes da Itália. (Ribeiro, 1995. p. 399).
Os imigrantes, principalmente italianos, vieram para o Brasil impulsionado por uma
forte propaganda tanto do governo italiano, quanto do governo brasileiro, a maioria dos que
vieram para cá se sentiram enganados porque não encontraram aqui o prometido pela
propaganda. Os primeiros imigrantes resistiam a conviver com escravos, pelo fato de se
sentirem superiores aos negros e com medo de serem tratados em igualdade de condições
com os mesmos. O fato de o Brasil ser um país escravocrata inibia os europeus de
imigrarem para o Brasil. Isso retardou a imigração apesar da grande dificuldade que os
europeus enfrentavam em seus países. Com o fim da escravidão, grandes levas de
imigrantes vieram para o Brasil. A princípio ganhavam mal trabalhando nos cafezais, mas
os imigrantes tinham muita experiência no trabalho assalariado e na organização sindical,
logo começaram a reivindicar melhorias salariais, sendo que os imigrantes custavam menos
que os escravos para os donos das fazendas.
Os filhos dos imigrantes logo passaram a trabalhar nas indústrias que começavam a
se desenvolver nas cidades maiores do Brasil, de agricultores passariam a industriários se
organizando em sindicatos de classes, sempre lutando para melhorar de vida, levando
consigo a esperança de “fazer a América”. Desta forma os imigrantes vão se tornando
brasileiros e esquecendo sua pátria natal.
No sul do Brasil as imigrações em massa aconteceram nas décadas de 70 e 80 do
século XIX, quando a escravidão no Rio Grande do Sul já não existia mais. A forma de
assentamento foi diferente, os imigrantes eram assentados nas chamadas colônias de terra,
embora a propaganda era que além da terra haveria infra-estrutura. Ao chegarem aqui
comprovaram que a única coisa que havia era mata virgem e muitos animais desconhecidos
dos novos colonos, além das dificuldades econômicas enfrentadas por eles. Com o sonho de
se tornarem grandes granjeiros, os imigrantes enfrentaram muito trabalho para cultivar a
terra e aos poucos foram melhorando sua condição econômica. Famílias grandes, os filhos
cresciam, logo formavam novas famílias e as terras iam se escasseando. O Rio Grande do
Sul começava a se tornar pequeno para os filhos dos imigrantes e esses saem em busca de
novas terras para cultivar, como fizeram seus pais. Então os filhos de imigrantes começam
a colonizar o oeste de Santa Catarina ampliando assim suas áreas de cultivo. Atravessam o
rio Uruguai adentrando no oeste e fundam a vila Oeste (hoje São Miguel do Oeste), vindo
até a fronteira com a Argentina sempre semeando para colher os frutos da terra, onde
muitos se desiludiram com a agricultura partindo para outras atividades, mas, sempre
sonhando em melhorar de vida.
Os imigrantes substituíram a mão-de-obra escrava nos cafezais paulista, ajudando o
progresso do Brasil e principalmente o dos grandes fazendeiros. Sofreram quase como
sofriam os escravos, onde que se tornaram brasileiros pelo sofrimento e pela falta de opção
em retornar à suas terras que no século XX recuperaram-se da crise, tornando-se potências
mundiais.
Podemos definir que os europeus que imigraram para o Brasil para substituir os
escravos, que também foram imigrantes, embora pela força, igualmente se tornaram
brasileiros, os primeiros foram mais reconhecidos por serem de cor branca, os últimos
sempre foram alvo de racismo por serem negros. Hoje todos são brasileiros, misturam-se
formando uma raça homogênea trabalhando para o desenvolvimento de uma nação, porém,
ainda hoje são vítimas do preconceito, do racismo, da discriminação nos mais diversos
aspectos. Mas, lentamente a mentalidade se modifica e esse contingente vai se inserindo na
sociedade brasileira. Esse é o resultado da luta e do sofrimento de um povo que busca o
reconhecimento enquanto cidadão.
2.3 A MIGRAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL PARA SANTA CATARINA
2.3.1 A COLONIZAÇÃO GAÚCHA NA REGIÃO DA FRONTEIRA
A História Oral não é necessariamente um instrumento de mudanças; isso
depende do espírito com que se utiliza. Não obstante, a história oral pode
certamente ser um meio de transformar tanto o conteúdo quanto a finalidade
da história. Pode ser utilizada para alterar o enfoque da própria história e
revelar novos campos de investigação...(Thompson, 2000).
Em virtude da falta de publicações e a dificuldade de material para pesquisa, sobre
a formação dos municípios já mencionados e objetivando confrontar dados, ressalta-se a
importância da história oral na construção da pesquisa científica para o desenvolvimento do
projeto em andamento. Sendo que a história oral assume papel importante a partir de 1945 e
passa a ser reconhecida como instrumento indispensável na construção do conhecimento
histórico-científico e abre espaço para o papel do historiador enquanto seu agente
construtor.
Com o fim da segunda Guerra Mundial o Brasil passou por um período de
expansão, colonos gaúchos saíram de seu estado à procura de mais espaço uma vez que o
Rio Grande do Sul já estava muito povoado. Conforme Bavaresco:
É importante observar que o governo passou a se interessar pelas terras do
Oeste para garantir a sua posse. Impossibilitado de promover o
desenvolvimento da região, deixou-o a encargo de empresas colonizadoras
particulares. Essas empresas tinham somente objetivos econômicos, enquanto,
para o governo, o importante era ocupar as terras e promover o
desenvolvimento, onde apenas viviam os “fora da lei” e os foragidos do estado
vizinho, Rio Grande do Sul. (Bavaresco, 2005, p.70).
Na época da colonização havia duas necessidades imediatas, o governo catarinense
precisava com urgência ocupar o oeste do estado para garantir suas fronteiras, internas
como externas, e ao mesmo tempo agricultores do Rio Grande do Sul, filhos de imigrantes
europeus precisavam de terras para uso agrícola. O governo de Santa Catarina não
disponibilizava recursos para fazer infra-estrutura para povoamento, dando a concessão de
empresas colonizadoras que ganharam muito dinheiro com a venda das terras. As empresas
colonizadoras criaram conflitos com os habitantes das terras que não possuíam registros.
Santa Catarina, mais especificamente o oeste do estado foram escolhidos por grande
parte dos gaúchos migrantes. Conforme citação:
Por volta de 1945, a firma Barth, Annoni & Cia. Ltda, usando as Escrituras de
compra das terras e pinhais existentes, de propriedade dos Herdeiros de
Antonio Antunes de Lara, na fazenda “CONCEIÇÃO”, determinou a medição
da área, em lotes de um ou mais colônias de terras, e começou a vendê-los aos
colonos do Rio Grande do Sul.
Verificou-se então uma intensa migração de famílias e mais famílias de
colonos que começaram a se instalar nos lotes coloniais adquiridos.(Pereira,
2004. P. 89).
A migração de famílias gaúchas que ocorreu em 1945, rumo ao Oeste de Santa
Catarina e Sudoeste do Paraná, conforme relatos já mencionados, observa-se que parte
dessas famílias veio para esta região objetivando a busca de novas alternativas de trabalho,
pois aqui havia terras em abundância para serem exploradas e com preços acessíveis, fáceis
de adquiri-las. Encontrava-se ainda a madeira e a erva-mate como fonte de renda. Outro
fator que motivou a vinda de pessoas para a fronteira: Barracão / PR, Bernardo de Irigoyen
/ República Argentina, Dionísio Cerqueira / SC foi o preço dos produtos argentinos, as
mercadorias eram adquiridas em média pela metade do preço que custava no Brasil sendo
que os principais produtos comprados pelos brasileiros eram: farinha, graxa, sabão,
macarrão, arroz, bebidas e doces. Porém, a falta de estrutura como: escolas, hospitais,
delegacias e grandes comércios ainda era escassa devido ao fato de que Dionísio Cerqueira
e cidades vizinhas não eram politicamente independentes dificultando a vida dos migrantes
acostumados à estrutura da região do Rio Grande do Sul, fazendo com que muitos dos que
aqui chegaram, logo migrassem novamente, principalmente para o Oeste do Paraná.
Com a vinda dos colonizadores, provenientes principalmente do Rio Grande do Sul
começa a formação de novas cidades.
Esse contingente populacional passa a fazer parte do povo da fronteira, o que
contribui na formação da diversidade étnica da mesma, sendo que a maioria dos migrantes
era descendente de italianos, alemães, poloneses, os quais somou-se com os descendentes
de espanhóis, de portugueses e caboclos da região fronteiriça aumentando a riqueza cultural
regional. Na década de 1970 incorporaria imigrantes árabes que lentamente vão se
inserindo na sociedade local, conforme a citação a seguir:
Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente
transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus
embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui
tecnologias e modos de organização política, crenças e práticas religiosas, e
assim por diante.(Laraia. 2001. p. 59).
Essa mistura cultural originou uma nova cultura em detrimento da velha. Hoje se
pode observar que há uma grande diversidade cultural na fronteira, a qual contribui para
difundir a cultura brasileira, aspecto esse que é visível através da música, dança, idioma,
meios de comunicação, religião etc...Onde podemos perceber que a cultura não é estática
muda constantemente conforme período histórico e conforme ocorre às migrações no
espaço geográfico, assim como as mudanças ocorrem também nos setores econômicos de
cada país, cidade ou lugar, pois há influência de um para com o outro, seja, do humano, que
resulta no cultural, no econômico, político ou no social, todos estão interligados. Muito
embora predomina sempre a cultura do mais forte em detrimento do mais fraco, lembrando
ainda que esse é um processo histórico que ocorre lentamente aos olhos do ser humano,
sendo recente para a história em termos de tempo ou período histórico. Há muito a
desvendar em relação à história do povoamento e da formação étnica da fronteira.
CAPÍTULO III
3.1 A FRONTEIRA
INTRODUÇÃO
Através de entrevista realizada no dia 05 de outubro de 2006 com o Sr. Vergílio
Alves dos Santos morador residente na Linha Sete de Setembro município de Dionísio
Cerqueira, o Sr. Raúl Silva Dico, residente na cidade de Bernardo de Irigoyen, Província de
Misiones, República Argentina que se realizou no dia 18 de outubro de 2006. Procurou-se
fazer um relato da história da fronteira, tendo como fonte utilizada para o desenvolvimento
do terceiro capítulo a Historia Oral, enfatizando a importância desta para melhor
entendimento da história do povo local, uma vez que bibliografias sobre o tema abordado
são escassas, quase que inexistentes.
Os depoimentos serão relacionados ao modo de vida dos habitantes destas
localidades no contexto histórico regional entre os períodos de 1920 até o presente
momento, verificando qual foi sua contribuição para com a formação étnica da fronteira.
Na entrevista os relatos abordam também as dificuldades vivenciadas pelo povo da época,
seus anseios, sua cultura, suas crenças, os medos com os quais conviviam para defender as
terras onde moravam e sofriam ameaças por parte de terceiros que se diziam donos das
mesmas, sendo que muitos foram expulsos das suas propriedades, sem direito a reclamar
por elas, pois eram donos das mesmas através do direito de posse.
Mas é importante observar através destes relatos que o povo sertanejo apresentava
conhecimento empírico nas diversas áreas do saber, como por exemplo, geográfico,
medicinal, agronômico, prognóstico em relação à previsão climática e outros, os quais
supriam a falta de recursos científicos. Eram pessoas extremamente de fé em sua grande
maioria católicos, porém seus costumes eram místicos e não estavam de acordo com a
Igreja Católica.
3.2 DIFERENTES OLHARES SOBRE A FRONTEIRA
3.2.1 OLHAR POSITIVISTA
A formação da fronteira foi palco de grandes acontecimentos que fez com que esta
região se tornasse importante no cenário nacional e internacional, essa faixa de terra que
esteve em litígio por muitos anos foi alvo de discussão por brasileiros e argentino.
A fronteira era grande produtora de erva mate, que, no século XIX e XX, era
exportada para a Argentina.
No final do século XIX, a questão de limites entre o Brasil e Argentina ocupou a
diplomacia dos dois países para tentarem resolver o problema de forma pacífica, após
inúmeras negociações a questão chegou a seu limite, a única saída foi o arbítrio, a disputa
chegou nos Estados Unidos da América. O presidente Cliveland arbitrou em favor do Brasil
e a fronteira entre Brasil e Argentina foi corrida definitivamente cerca de duzentos
quilômetros ao oeste da República do Brasil, esse fato fez com que a fronteira ficasse
conhecida em todo o território nacional devido a relevância do caso.
A fronteira era vista na década de 1940 como uma grande área de terras com preços
relativamente baixos, portanto fácil de ser adquirida, pela abundância de pinheirais e outras
espécies de madeiras nobre que atraiu muitas madeireiras que aqui se instalaram
completando seu papel de “desenvolvimento” devastando as matas, limpando as terras para
o plantio e para a plantação de pastagens para a criação de gado. Toda essa facilidade
possibilitou a vinda de agricultores em busca de novas terras para o cultivo já que os
migrantes eram em sua maioria provenientes do Rio Grande do Sul e naquele estado as
terras eram escassas. Buscar novas terras foi a saída encontrada por aqueles agricultores
filhos de imigrantes europeus.
As cidades da fronteira foram muito visadas também por pessoas que procuravam
abrigo. Fugitivos da justiça brasileira cruzavam a fronteira seca escapando impunemente da
justiça e das possíveis penas que certamente sofreriam deste lado da fronteira, o mesmo
aconteciam com argentinos e até mesmo paraguaios devido a proximidade daqueles países,
esses fatos fazia da fronteira um lugar de grande transito migratório. Porém o olhar da
região sobre a fronteira sempre foi voltado para os preços baixos dos produtos argentinos
que perdurou por décadas e após interrupção de uma década voltou a acontecer a partir de
2002.
Alguns acontecimentos na fronteira ficaram conhecidos em toda a região, tais como:
a demarcação da fronteira, a passagem da coluna Prestes e o confronto com as tropas legais,
bem como a divisão da referida coluna Prestes sendo que uma rumou para Francisco
Beltrão e outra para Foz do Iguaçu. Ocorreu também o Golpe Militar de 64 e o
desmantelamento do Grupo dos Onze, bem como a fuga para a Argentina de alguns de seus
integrantes da fronteira, outro acontecimento que marcou as cidades fronteiriças foi o
linchamento de uma quadrilha que supostamente assassinou vários taxistas na fronteira nos
anos 1980 demonstrando a indignação e a brutalidade do ser humano; o Assentamento
Conquista na Fronteira o qual hoje é conhecido internacionalmente como uma prática de
trabalho coletivo que se firma enquanto alternativa viável para o trabalho no campo,
recentemente se concretizou a criação do Mercosul, a construção da Aduana Justaposta e
outros acontecimentos que ocorreram ao longo da existência das cidades fronteiriças que
certamente influenciaram na formação do povo que habita neste espaço geográfico,
econômico, cultural e social.
3.2.2 OLHAR OLÍSTICO
Toda a região pertencente hoje à fronteira era coberta por densas florestas que
formavam uma enorme biodiversidade. Nesse espaço vivia primeiramente o homem da
terra (indígena), que era parte do meio em que vivia, convivendo harmoniosamente com a
natureza. O ameríndio convivia com outras espécies em aldeias devido em tribos até a
chegada dos Bandeirantes que em busca de índios para escravizar adentravam o interior do
Brasil. Chegando aqui encontraram uma grande aldeia dos índios Guaranis, chamada
Carieseba a qual destruíram, após os primeiros contatos começando a miscigenação, dando
origem ao caboclo que viria a substituir o indígena na povoação destas terras. O caboclo
vivia da agricultura de subsistência, da caça, da pesca e do extrativismo como viveram seus
antepassados, a erva mate era o principal produto extraído da natureza, já que era nativa
nesta região, coletavam a erva mate e vendiam principalmente para a Argentina, desta
forma vivia o caboclo ano após ano sem grandes preocupações, pois, tinha praticamente
tudo o que necessitavam na natureza.
A forma de vida do caboclo permitia uma preservação da natureza praticamente
automática.
O modo de vida do caboclo da fronteira era solidário, eles viviam em comunidade
todos se ajudavam nos mutirões, dividiam as safras com seus vizinhos, essa prática era
recíproca. Possuíam seus credos e sua fé que em muito se diferenciava das igrejas cristãs, o
misticismo estava presente na vida do caboclo e a devoção a São Sebastião que incluía a
festa dos inocentes que era comemorada todos os anos somado a devoção a São João Maria.
Esta última não era vista com bons olhos pelos padres que vinham por aqui de vez em
quando.
O colonizador tinha um olhar sobre a fronteira fixado na exuberância das matas, na
abundância das terras que poderiam ser aproveitadas para o cultivo e na diversidade da
flora e da fauna. O olhar do colonizador sobre o caboclo era de inferioridade com relação
ao diferente, pois segundo a visão destes aqui não havia progresso. O progresso
representava para o colonizador a derrubada das matas, a poluição dos rios e a plantação de
culturas para a comercialização e a criação de animais para o abate.
O desenvolvimento era buscado constantemente sem respeitar o modo de vida e a
cultura dos habitantes desta região. A visão do caboclo era de harmonia com a natureza e
sua cultura passava de pai para filho, não entendendo ele a cultura do colonizador que
possuía uma visão capitalista de alta produção, o cultivo indiscriminado das terras, não
respeitando rios banhados ou qualquer outro tipo de preservação ambiental.
3.2.3 OLHAR FENOMENOLÓGICO
Olhando a fronteira através desta ótica vemos as mudanças culturais que acontecem
com o povoamento desta região, a cultura muda, se transforma pela dinâmica, os idiomas
são regionalizados, o encontro de idiomas e de culturas se transforma e sofre
transformações na medida em que se relacionam e vão criando identidades.
Mas muitos são os olhares sobre a fronteira. Quando se fala de fronteira logo muitos
pensamentos permeiam a mente das pessoas, pensa-se a priori, sem conhecimento de causa,
diante deste olhar são muitos os pensamentos.
Antes da colonização pensava-se que a fronteira era terra de ninguém, sem lei,
abrigo de bandidos onde a impunidade atraía bandidos de toda a região.
Para o colonizador a fronteira era uma grande área de terras que abrigava pessoas
sem progresso, vadias que viviam na ociosidade, para eles os caboclos que aqui habitavam
não mereciam possuir terras, porque não trabalhavam mesmo, como eles não trabalham que
deixem a terra pra quem quer trabalhar, esse era o pensamento do colonizador.
Para o comerciante essa terra prometia uma aventura e tanto, terra promissora, onde
os produtos argentinos são baratos, cidade que falta tudo, muitas coisas se pode fazer na
fronteira.
3.2.4 OLHAR DIALÉTICO
As cidades da fronteira: Barracão PR, Bernardo de Irigoyen Mnes Argentina, e
Dionísio Cerqueira SC, formavam um só povoado até 1903, ano em que a fronteira foi
demarcada. Com a demarcação da fronteira a parte Oeste do povoado passou a pertencer
para a Argentina. A partir de 1916, com o fim da Guerra do Contestado foi demarcada a
fronteira interna entre os estados do Paraná e de Santa Catarina cortando novamente o
povoado ficando ao sul Dionísio Cerqueira e ao norte Barracão.
As três cidades nasceram juntas, foram crescendo e se desenvolvendo de acordo
com as relações de trabalho impulsionado pelas políticas governamentais de ambos os
países, Brasil e Argentina. Por se tratar de cidades situadas longe das respectivas capitais
dos estados e de grandes cidades se desenvolveram lentamente, não acompanharam o
crescimento econômico de outras cidades regionais que se tornaram cidades pólo como:
Francisco Beltrão / PR, São Miguel do Oeste / SC e Eldorado Mnes / Argentina
conseguiram maior desenvolvimento econômico, portanto maior e mais rápido crescimento.
As cidades da fronteira conseguiram o crescimento do comércio alternadamente.
Bernardo de Irigoyen durante décadas vendeu produtos argentinos aos brasileiros, no
entanto grande parte dos comerciantes de Irigoyen era brasileira, aplicavam grande parte de
seus lucros no Brasil fazendo com que a cidade de Bernardo de Irigoyen se mantivesse
estagnada no âmbito da agricultura. Bernardo de Irigoyen não alcançou nenhum avanço
pelo fato de os agricultores que ocuparam a maior parte das terras eram oriundos do Brasil.
Esse extrato social era formado pelos caboclos que tiveram que abandonar suas terras
devido a vinda dos colonizadores gaúchos que compraram as imensas áreas de
colonizadoras. A cultura dos caboclos que trabalhavam a agricultura de subsistência
continuou no país para onde imigraram.
Os municípios de Barracão e Dionísio Cerqueira foram colonizados na década de
1940 por agricultores, na sua maioria vindos do Rio Grande do Sul, porém encontraram
terras muito acidentadas, dificultando o trabalho da mesma. Outro motivo que inviabilizou
o desenvolvimento agrícola desses municípios foi a falta de infra-estrutura e a baixa
qualidade de produção do solo. O comércio de Barracão e Dionísio Cerqueira alcançaram
certo desenvolvimento na década de 1970, mas fica estagnado na década seguinte,
retomando o crescimento na década de 1990 pelo fato de a Argentina ter adotado um plano
econômico de supervalorização de sua moeda. De 1992 a 2001 o comércio de Barracão e de
Dionísio Cerqueira quadruplicou. Durante essa época o comércio brasileiro vendia de tudo
para Irigoyen e cidades na região pertencentes à província de Misiones.
Com a quebra do plano econômico do presidente Menen, a Argentina caiu numa
profunda depressão econômica que causou uma enorme desvalorização do peso (moeda
Argentina) invertendo o comércio e pondo fim aos anos dourados do comércio de Barracão
e Dionísio Cerqueira. Em apenas cinco anos o comércio das duas cidades brasileiras
diminuiu em cerca de 50%, mas, como a fronteira trabalha com essa relação de forças, o
comércio de Bernardo de Irigoyen que estava praticamente “morto” começou ressurgir,
dando vida à cidade. Nas décadas de 1950, 1960 e 1970 apenas produtos como: farinha,
sabão, óleo e outros produtos básicos tinham preços muito baixos em relação aos preços
praticados no Brasil. Hoje além desses produtos os brasileiros compram uma enorme
diversidade de outros, desde combustíveis, fármacos, produtos agropecuários, roupas,
enlatados, vinhos e outros.
Aparentemente a fronteira é um lugar de muito progresso devido a quantidade de
caminhões que passam pela Aduana todos os dias. Esses caminhões levam e trazem
produtos de exportação, a fronteira seca é utilizada como passagem de caminhões que
transportam mercadorias para o Chile, Peru e Equador.
Todas as exportações que passam pela Aduana não produzem riquezas nas cidades
da fronteira, todos os impostos cobrados de importações e exportações são remetidos para a
União restando apenas a visão de que na fronteira se faz grande movimentação financeira.
Durante a década de 1990 a balança comercial, no que diz respeito a Aduana de
Dionísio Cerqueira sempre foi positiva para o Brasil, mas a partir de 2001 vem se
invertendo, no último ano a balança comercial foi favorável em mais de 50% para a
Argentina.
As relações comerciais entre Brasil e Argentina são fixadas através de acordo feito
entre os países membros do Mercosul. Porém alguns acordos são feitos diretamente entre os
próprios países chamados de Acordos Bilaterais que ora beneficia um país, ora beneficia o
outro que, direta ou indiretamente, acabam interferindo na cultura local.
3.3 HISTÓRIA ORAL: ENTREVISTAS
A entrevista com o Sr. Vergílio Alves dos Santos, de 106 anos de idade, foi
realizada no dia 16 de setembro de 2006 por João A. Mossini e Terezinha R. Camargo, na
Linha Sete de Setembro no município de Dionísio Cerqueira /SC. Este entrevistado está
identificado como nº 1; já o entrevistado nº 2 é o Sr. Raúl Silva Dico, de 90 anos de idade.
A entrevista foi realizada no dia 30 de outubro de 2006 em sua residência na rua Andrés
Guacurarí, s/n, na cidade de Bernardo de Irigoyen/ Misiones/ Argentina, por João
A.Mossini e Terezinha R. Camargo; o entrevistado identificado como nº 3 é o Sr. Nilson
Verona de 77 anos de idade, residente em Dionísio Cerqueira. A entrevista foi feita em sua
chácara na linha Sede Peperi no mesmo município, no dia 07 de novembro de 2006, por
João A. Mossini e Terezinha R. Camargo.
Na pesquisa oral a seguir procurou-se abordar os diferentes olhares sobre a
formação da fronteira conforme relato dos entrevistados. Conforme entrevistado nº 1, o
relato é da seguinte forma:
Ou, oi eu tava com 17 ano quando cheguei aqui. Olha quando eu cheguei aqui
Dionísio Cerqueira era casaca, bassorá, taquara, casa de chão, loja de chão...E
nesse tempo, daí fui pa Santo Antonho trabaiá na empresa Pastoriza. Se viu
falá?Lá trabaiei por dia, trabaiei por meis, trabaiei em medição de terra,
construção de estrada.
Pode-se observar através da fala do Sr. Virgilio que o município de Dionísio
Cerqueira e região era apenas um pequeno povoado, o comércio era precário, as
construções eram de pau a pique e o modo de vida dos habitantes em sua maioria identificase
com o modo de vida do caboclo. No que se refere ao trabalho, as pessoas já se
deslocavam para outras localidades em busca do sustento familiar ou da própria
sobrevivência, conforme acima mencionado, suas atividades estavam voltada para erva
mate, medição de terra e construção de estradas. O regime de trabalho era por dia e por mês
e praticavam a agricultura de subsistência.
O povo residente nesta região, neste caso o caboclo, contribuiu para com os
primeiros passos do desenvolvimento regional, através da construção de infra-estrutura,
pois aqui o local era visto como lugar de foragidos da lei e por esse motivo os
representantes governamentais preocupados em fazer a limpeza da área vendiam lotes de
terras para empresas colonizadoras as quais passaram a construir estradas e vender os lotes
por preços elevados a famílias do Rio Grande do Sul. Em resumo esta região encontrava-se,
no primeiro momento economicamente voltado para produção da erva mate.
Esse momento foi muito significativo na formação das cidades da fronteira quanto
ao seu aspecto étnico. Tal importância ocorreu devido ao fluxo de pessoas, até mesmo
devido ao fato de muitos se deslocarem em busca de melhores condições de vida,
chegavam e faziam suas instalações, passavam a conviver com os moradores locais onde
aconteceram encontros de diferentes culturas, somando-se a esta a cultura dos hermanos
argentinos dando a região da fronteira uma característica impar no contexto regional.
Quando questionado sobre como era a Argentina e como era o relacionamento entre os
povos dos dois países o entrevistado nº 1 relata o seguinte:

Ali naquele tempo era trânsito livre, era pra lá e pra cá.
Precisava algum tipo de documentação para passar à Argentina?
Não carecia nada, nada. Naquele tempo se queria mora na Argentina podia
entra no lugar que se agradava, tirava o lugá ali, ninguém achava ruim a
policia lá também naquele tempo era policia da...Ai naquele tempo ali a gente
entrava lá com revorve, facão na cintura cos policia enxergava, eles não se
importavam.

O que pode ser observado quanto ao relacionamento entre moradores da tríplice
fronteira é que as pessoas podiam transitar livremente entre o Brasil e Argentina sem
maiores exigências quanto a documentação, inclusive morar em qualquer um dos países
sem serem molestados. Esse livre acesso entre os dois países contribuiu na formação étnica
e cultural da fronteira. Nesse período não havia preocupação quanto ao limite geográfico
por parte dos transeuntes, mas as autoridades brasileiras preocupadas em povoar a fronteira
e garantir a posse da terra evitando novos conflitos projetaram a colonização do Extremo
Oeste de Santa Catarina proporcionando a vinda de gaúchos filhos de imigrantes europeus.
Em relação a empresa Barth Annoni, que eram, o que eles faziam, bem como a sua
atuação na região o mesmo relata:

É. Mais esse eu não me lembro da Barth Annoni, eu não me lembro qual é.
Eles tomavam, tiravam tudo, eu passei muita rage nesse lugá aqui,
aperseguido de pistoleiro, requeri o direito de uso campião, a aqueles chefão
que tomaram tudo, consumiram até com os meus documentos que eu tinha do
cartório do direito de uso campião, eu, o juiz me deu um disfarce i daí eles
foram tomando conta, pagando pistoleiro.

O entrevistado nº 1 relata que a empresa expulsava os moradores, usando perseguilos
com homens armados, estes além de tomar as terras aprendiam os documentos de posse
dos moradores, sem respeitar seus direitos. Prosseguindo o entrevistado conta:
“É. Tomando a terra, usava a polícia, levava, posava na cadeia, lá no outro dia
só o capitão que era o cabeça, distratava bastante e mandava embora.”
Constata-se o seguinte: Os que aqui viviam eram tratados como bandidos, sem
direito algum sobre seus bens, neste caso a terra, por não possuírem documentação. Embora
vivessem nessas terras a muitos anos. As autoridades agiam conforme interesse daqueles
que aqui chegavam para obter um pedaço de terra, ajudavam a expulsar os verdadeiros
donos das terras, levavam presos e agrediam verbalmente quando não fisicamente. Depois
soltavam as pessoas sem condições de se alimentar e tendo que percorrer muitos
quilômetros a pé até retornar as suas residências quando podiam retornar. Poucos
conseguiam sair bem no episódio todo.
Assim foi se construindo a história do município de Dionísio Cerqueira e demais
municípios que formam a fronteira.
Referente ao caboclo o entrevistado nº 1 quando questionado comenta:
“Aqui vivia se trabaiando também, também fazendo roça e coivara aqueles
que tinham safra de porcos, e trabaiando nas roças assim”.
Vivia-se modestamente, plantavam e colhiam para sobreviver, praticavam a
agricultura de subsistência, e pelo que se percebe não tinham visão capitalista, sendo que
eram pessoas simples que tinham seu modo de vida, seus costumes e suas crenças.
Já com relação a vinda dos colonizadores e o relacionamento com eles, o
entrevistado nº 1 explica:
Oia! Depois que tiraram as estradas daí que veio tudo a qualidade o gringo,
veio o alemão, veio há, há, há e daí que foram tomando conta.
Arguns se davam bem, otros já não.
Eles tinham raiva dos caboclos porque não queriam entregar a terra.
O fato dos caboclos terem a posse da terra gerava um certo antagonismo. s
colonizadores compravam as colônias de terras, no entanto, muitas dessas terras estavam
ocupadas pelos caboclos, o que não agradava os compradores e estes passavam a agir de
forma agressiva com os ali residentes, por outro lado o caboclo se sentia ameaçado pela
presença do colonizador que, por sua vez, se sentia etnicamente superior ao caboclo.
Perguntado sobre os costumes dos caboclos e o que ele poderia dizer para os
estudantes o entrevistado nº 1 comenta:

Ah sim, os estudante já são estudado pá consegui muitas coisas com os
estudos, por que antes tempo não havia estudo chegava mal no começo. E
naquele tempo muié pra servi de testemunha de um assunto assim precisava
treis muié pra servi de uma testemunha e agora não carece... claro por que não
era estudada.
Mais eu por causa que eu durei tudo esse tempo, por que eu cumía muita
carne de caça e a carne de caça é remédio i, i agora, eu cumía trabaiando
ansim: toicinho cozido com fejão preto, toicinho de porco é e a mistura farinha
de mandioca, e, como até agora.
Eu usava i uso como remédio a pariparóva, jaguarandí, o tar de chá de bugre,
cancarósa, ponha na chalera assim tomo chimarrão.
Óia festa aqui quase não fazia, aqui tinha os Tigre, eles fazia festa do Divino,
São Sebastião tudo os ano fazia festa... cunvidava tudo, era churrascada i de
graça ansim, não cobrava nada.

Em seu comentário o entrevistado destaca a importância da educação na vida das
pessoas, que os estudos são um condutor para um futuro melhor, mostra a pouca
valorização da mulher na sociedade daquela época e o avanço alcançado por elas atribuindo
esse avanço aos estudos. Quanto à cultura dos caboclos relata como se alimentavam para
agüentar a dureza do trabalho agrícola, atribui também a boa saúde como resultado da
variedade de ervas medicinais por eles usada no combate a doenças e que esse seria o
motivo da boa saúde e de viver muitos anos. Ressalta também as festas que aconteciam nas
comunidades anualmente que se tornaram uma tradição na vida cabocla regional.
Dando continuidade as atividades através das entrevistas o relato do entrevistado nº
2 com 90 anos de idade, nasceu em 1916, reside atualmente no município de Bernardo de
Irigoyen / Misiones /Argentina, comenta:

Aquél tiempo más o menos cuando yo tenia una edad más o menos de ocho y
diez, yo me acuerdo papá, nosotros somos los pioneros de acá, papá tenia
empresa de yerba, compraba yerba del Brasil de, de un lugar que se llamaba
Campo Erê, traía en tropa de mula y pasaba ahí en el puente, papá, ellos tenían
los permisos que venían directamente de Buenos Aires, ahí, ahí tenía
empleados de aduana, eran dos, un argentino y otro brasileño. Yo me acuerdo
que papá ponía la balanza bien en la frontera para pesar la yerba no, para
pagar los impuestos al gobierno no. Mi papá pagada los empleados de la
aduana. La aduana es la primera autoridad aquí en esta frontera. Papá tenía la
empresa de yerba allí más o menos donde está el correo ahora. Toda esa zona
papá tenía tropa de mula, cada tropa tenía cuarenta mulas y esas mulas era,
eran, ¿usted no conoce carguero no? Carguero de cuero así se cargaba la mula,
cargaba aquí, tiraba, llevaba en Puerto Benver. Creo que ahora no se llama
más Puerto Benver.

O principal produto de comercialização na fronteira na década de 1920, ainda era a
erva mate comercializada em grandes quantidades, por empresas de grande porte para
aquela época. Afirma o entrevistado nº 2, que se utilizava até 400 mulas em suas tropas
fazendo o transporte da erva proveniente do Brasil e levada a um porto do rio Paraná na
província de Misiones onde era colocada em balsas que levavam para Buenos Aires.
No auge da comercialização, na virada do século, a erva
mate representa 30% do total das exportações de Santa
Catarina.
Quase de repente, argentinos e uruguaios deixam de
comprar o produto, argumentando falta de qualidade.
(Sachet 2001. p. 56.).
Surge como resultado imediato o aumento da venda da erva proveniente da região
do Extremo Oeste do Estado e conseqüentemente aumentando a quantidade de produtos
que passavam pela fronteira seca, percebe-se a concorrência entre as regiões produtoras de
erva mate. Comprar a erva mate do Brasil e transportá-la pela fronteira seca ficava mais em
conta, para os compradores argentinos que passaram a investir no produto. A fronteira
recebeu vários empresários como o pai do Sr. Raúl que compravam erva mate no Brasil
para vendê-la na Argentina, esses empresários utilizavam a mão-de-obra disponível na
fronteira, que em sua maioria, eram caboclos e chamados de tarefeiros.
Observa-se que não havia autoridades além de dois aduaneiros que eram
responsáveis pela entrada e saída de mercadorias na fronteira, as licenças que permitiam a
entrada de erva mate na Argentina vinham diretamente da capital federal Buenos Aires.
Esse fato demonstra a dificuldade e a burocracia que as empresas enfrentavam para
transportar esse produto.
Referente ao meio de transporte utilizado na comercialização da erva mate o
entrevistado nº 2 em sua fala declara:

Las mulas papá tenia una chácara ahí, y tenia las crías de de mula, sabe. ¿Sabe
como se saca la mula? La mula se ase un ingierto con la yegua, con el
burrico… papá creaba eso, tenia una invernada grande y creaba y creaba las
mulas acá.

Diferentemente de outras regiões, as mulas utilizadas aqui eram também criadas
nessa região, isso diminuía o custo desse animal que era imprescindível no transporte da
erva mate. A história conta que o Rio Grande do Sul era grande criador de mulas que eram
levadas para Sorocaba e vendidas nas feiras. Criar mulas era uma atividade rara na região,
mas muito importante, levando em consideração que a mula era um animal indispensável
para o transporte naquela época, portanto muito utilizada para o transporte da erva mate e
também de todo o tipo de mercadorias usadas para o consumo dos habitantes da região
fronteiriça.
Referindo-se a região fronteiriça, o entrevistado nº 2 argumenta:

Ante acá no había frontera era todo libre, se pasaba no más cuando necesitaba
de allá y negocios, negocios muy poco había, en el año, papá vino acá en el
año 1905, vino, vino acá con las empresas, después puso un negocio acá, una
empresa. En 1938, puso un negocio en el Brasil, tenia en el Brasil y en
argentina.

Nos primeiros tempos de sua história a fronteira foi habitada primeiramente pelos
índios, mais tarde por volta do século XVIII, o branco percorre a região conduzindo bois e
cavalos em busca de novas tendências comerciais, com o passar do tempo surge um novo
habitante na fronteira chamado caboclo, esse é resultado da mistura do branco com o índio.
Este, inicialmente trabalhava na condução das tropas, nas fazendas de criação de gado e na
colheita da erva mate. Esse não recebe a escritura de proprietário da terra, pois até as terras
devolutas encontravam-se reservadas para os coronéis ou outros colonizadores que vinham
chegando, assim teve início a história do caboclo sem terra, sem representante político e
contribuinte da formação étnica da fronteira e região, sendo também o principal
personagem da sangrenta Guerra do Contestado.
Quando indagado sobre os habitantes dessa região diz:
Paraguayos casi no había, había. La gente más que había era toda del
Brasil.”
Após a demarcação da fronteira (no ano de 1903) a presença de brasileiros no lado
argentino da fronteira era maciça, Bernardo de Irigoyen começa a ser formado por
brasileiros, com a colonização do extremo Oeste de Santa Catarina a presença de brasileiros
se intensifica ainda mais, pois, muitos dos caboclos que perdem suas terras cruzam a
fronteira e se estabelecem naquele município reproduzindo a cultura brasileira e o modo de
vida das pessoas que para ali se mudam.
Durante décadas os costumes argentinos cedem espaço em Irigoyen para o
crescimento da cultura brasileira, assim como o idioma castelhano era pouco falado naquela
cidade, mesmo durante a Ditadura Militar Argentina não foi possível erradicar a cultura
brasileira que predominava na fronteira, apesar dos esforços daquele regime e de sua
dureza, o português continuou sendo falado nas ruas e nas casas de Bernardo de Irigoyen.
No ano 2001, com a grande depressão econômica sofrida pela Argentina e a quebra daquele
país, quebra-se a predominância da cultura brasileira, começa a se desenvolver a cultura e
os costumes predominantes em todo o território nacional argentino. Bernardo de Irigoyen
começa a ascender economicamente e culturalmente. Agora em 2006, Bernardo de Irigoyen
se parece mais com as cidades argentinas pela arquitetura, pelos costumes e pela forma de
pensar de seu povo.
O Sr. Manoel Silva Dico, pai do entrevistado nº 2 chegou na fronteira no ano de
1905 segundo depoimento de seu filho Raúl, a fronteira havia sido demarcada há apenas
dois anos e as empresas que exploravam a erva mate migravam para a fronteira, junto com
essas empresas vinham pessoas que contribuíam culturalmente e economicamente para a
formação das cidades da fronteira. Um fato que chama a atenção é a possibilidade de
colocar comércios em ambos os países sem qualquer inconveniente, isso demonstra que
para os habitantes daqui a fronteira física não existia na prática. A prática de ter vida dupla
pode ser entendida como uma forma cultural das pessoas da fronteira, tendo em vista que
essa prática era comum nas cidades trigêmeas.
No período entre 1938 e 1940 inicia-se a colonização do Extremo Oeste de Santa
Catarina onde o caboclo perde espaço com o avanço da colonização. Ele migra para a
Argentina ilegalmente encontrando grandes extensões de terras pertencentes ao governo
argentino, deixando o espaço brasileiro livre para a fixação do migrante europeu mais
especificamente filhos dos imigrantes vindos do Rio Grande do Sul os quais assentaram-se
em pequenas glebas de terra, sítios, lote e colônia como ponto de partida para o processo
civilizador. Esse contingente que sai do Brasil instalando-se no país vizinho passa a
contribuir na formação cultural, étnica e econômica de Bernardo de Irigoyen.
A fronteira era de livre trânsito, fato que facilitou a entrada de brasileiros que
povoaram a cidade vizinha não apresentando um caráter de colonização, mas sim de
obtenção de um lugar para viver, sempre alimentando a esperança de retornar a terra de
origem sem o objetivo de fixação ou de criar raízes na terra que não era a sua pátria. Por
esse sonho alimentado durante toda a sua existência os mesmos não progrediram
economicamente e acabaram retornando hoje em busca da aposentadoria que possa
garantir-lhes uma velhice com maior segurança e estabilidade, retornando as suas raízes,
porém, hoje com grandes mudanças e evoluções no que diz respeito a vida social, modo de
vida, lugares históricos, costumes e tradições e até de idioma que conforme Hall, 2003 p.75
descreve:

Por vivermos em uma área de fronteira temos observado que quanto mais a
vida social se torna mediado pelo mercado global de estilos Imagens, pelas
viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de
comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam
desvinculadas-deslojadas de tempos, lugares históricos e tradições específicos
que parecem fluir livremente.

O retorno para o Brasil ocorre de forma intencional, mas este povo acabou por não
se inserir na cultura Argentina e não acompanharam a evolução da cultura brasileira
sofrendo um profundo choque cultural devido a desvinculação com que se mantiveram por
muitos anos com a sociedade brasileira, pois apesar de viver no limite fronteiriço seus
contatos eram restritos a necessidades básicas: compra de alimentos, utensílios e outros.
No decorrer da entrevista, questionou-se o entrevistado nº 2 sobre a Coluna Prestes
o qual relatou:

Si sobre, sobre Prestes, el vino de Brasil y tuvo en la casa de papá, tuvo tres
días, vino corrido de cuando hizo la revolución en, en el brasil, papá le, le
tenia ahí le tenia refugiado ahí porque vino disparado y después volvió otra
vez a la Argentina en 1925 era eso, yo me acuerdo, yo tenia mas o menos
ocho años por ahí mas o menos. Prestes era comunista no, el ultimo combate
que ellos dieron en el Brasil fue allí en Separación. No, no el se encontró con
papá y habló con papá y papá pasó, no,no se asustaban nada, yo nunca. El tuvo
tres días por aquí después volvió a Brasil.

O entrevistado afirma que no ano de 1925, o revolucionário Luiz Carlos Prestes ao
passar pela fronteira esteve em sua casa a convite de seu pai onde permaneceu durante três
dias após o combate com as tropas legalistas e que o povo da fronteira não se assustou com
a presença de Prestes e seus homens.
Perguntado sobre a lenda do monge João Maria o entrevistado conta:

Si yo sentí hablar de un monje, San Juan Maria se llamaba, a el yo tenía como
un santo el vino hasta acá en Argentina y de aquí volvió, volvió al Brasil, tuvo
hasta Campo Ere y hay un lugar donde, donde el durmió en Campo Ere que
dice, decía la gente cierto, donde el durmió había un lugar que brotaba el agua,
una vertiente, entonces el durmió allí y esa vertiente todo el mundo llevaba el
agua como remedio, dice que curaba la gente, yo viajé de a caballo de aquí y
pasé por ese lugar desensillé mi mula ahí y dormí allí, tomé el agua, yo, yo
tenía mucho, mucha dolor de cabeza y yo mejoré, no sé si uno tiene fe o que
pero todo el mundo hablaba. Y yo me iba a Clevelandia, ahí desensillé mi
mula y dormi, dicen que san Juan Maria era muy milagroso, dicen que se sabe
que se fue, dice que después se fue en Argentina, en un cerro no se donde,
como se llama ¿Puede ser cerro monje? Ahí se perdió, decían en aquel tiempo
sobre San Juan Maria.

A presença do monge João Maria faz parte da história da formação étnica da
fronteira, pois o mesmo representa o misticismo do caboclo, onde através da fé tinham
esperança que o santo resolvesse seus problemas, acreditavam em grandes mudanças
futuras e sonhos realizados, inclusive a cura de doenças, a ocorrência de milagres em
diversas áreas: saúde, negócios, vitória nas lutas do cotidiano. O monge por onde passava
medicava e curava as pessoas principalmente os povos que aqui viviam isolados e sem
acesso a medicina e aos trabalhos religiosos aumentando cada vez mais a esperança de dias
melhores na terra de ninguém.
Os feitos do monge se tornaram um mito na fronteira, era prezado pelos caboclos
que aqui residiam aumentando ainda mais a fé do povo, esses o tinha como um santo: São
João Maria.
Relacionando as entrevista essa história é expressa também pelo entrevistado nº 1
que em seu relato comenta sobre o monge e afirma que:

Óia vo lhe contá, eu trabaiava na Argentina, na medição de terra e tinha um
agrimensor, um polaco e tinha a barraca no mato onde ficava a pionada e tinha
um cerro muito arto, ia com a medição até naquele cerro e desmentia tudo,
isso o agrimensor contava. Daí um dia tava faiando, era um domingo tava
faiando no barraco e disse: eu vo dá uma vorteada vê o que tem por aí que eu
não posso medi, se foi subiu aquele cerro, se foi, se foi ,se foi dado uma artura
ixergó uma igrejinha, chegó sabe maquela igreja, tava São João Maria sentado
na porta da igrejinha e os bugre parado ai atrais dele, daí falo pra ele: não pode
chegá, chegue eles não fazem nada, daí sento, prozio tempo com São João
Maria. São João Maria disse: óia essa terra cá senhor não mede porque essa
terra aqui é dessa gente, que era os bugre.
Era no tar de, como é que é Campo Moron, esse cerro, cerro taio, taió parece.
São João Maria explico assim: disse óia vai vim um tempo que vão andá com
livrinho embaixo do braço iludindo e quando os gafanhotos de aço pegá essa
parte por cima (apontando seus ombros), tá perto de terminá o mundo, as lei
vai ficá dem jeito que não vai se cumpri demais, o pessoar também, fio mata o
pai, irmão mata o outro e a lei não vai cumpri mais.
Eu vi ele depois que eu cruzei eu me lembrei que era ele. Porque eu ia naquela
tarde, eu quiria sabê do tempo e ele me conto bem certo, o tempo tava pa
chovê, digo vo i porque vai chove. Disse Frorido ( Florido pertence ao
município de Santo Antonio do Sudoeste-PR) é longe daqui disse e vai da um,
vai chove de fazê inchurrada na estrada, poi e de vorta me deu mesmo aquela
chuva, uma inchurrada.
Óia ele era meio a trote assim, e veio, já o carçado dele era uma paragata, tipo
pargata. A ropa tinha, era ropa cumum assim, tinha barba e era morenasso
Óia quando ele teve em Faxinar, Campo Erê, ele dormiu num luga seco no
outro dia amanheceu um oio d’água, tudo o pessoar levava água pra remédio...

Segundo os entrevistados os feitos do Monge João Maria transcendem a fronteira
nutrindo a fé dos habitantes da região que eram carentes de quase tudo, pois as dificuldades
e a miséria rondavam os habitantes da fronteira fazendo que os mesmos se agarrassem a
qualquer esperança que lhes fosse oferecida, por quem quer que seja.
Na continuidade o entrevistado nº 2 descreve alguns costumes da fronteira:

Acá no había nada, había boliches de caña, rapadura, bala 38, eso no faltaba y
se mataba la gente, bueno ahora, ahora se mata igual pero antes todo el mundo
usaba arma, todos, vos no salía sin revolver en la cintura, en los bailes, aquí
hacían los bailes, en la Argentina los bailes de ramada no todos con armas
llegaba la policía , había dos solo vestido de civil, y ahí la policía desarmaba a
todas las gentes, ponía dentro de una bolsa los revólveres entregaba para el
dueño de la casa cuando terminaba el baile le entregaba las armas de vuelta
fue en los primeros tiempos, después fueron pasando los años ahí le sacaban
las armas y ya no entregaban más, ahí fue cambiando ya.

Segundo o entrevistado na fronteira não havia muitas coisas apenas alguns bares
que vendiam rapadura, cachaça e bala de revolver, detalhe, segundo ele bala não faltava,
porque todos usavam armas. Quanto a diversão a principal era os bailes realizados nas
casas dos moradores onde todos os presentes portavam armas. A polícia realizava as batidas
e recolhiam as armas e entregavam ao dono da casa para ser devolvida somente ao término
do baile, anos mais tarde essa prática foi sendo modificada, as armas eram recolhidas,
porém, não mais devolvidas aos seus respectivos donos. É importante destacar que tal
prática embora ocorresse do lado Argentino da fronteira, a mesma era proveniente da
cultura dos caboclos demonstrando assim que a cultura cabocla acabou por ser difundida
entre os povos fronteiriços de modo geral, a qual contribuiu no modo de vida dos habitantes
de Bernardo de Irigoyen, relacionando cultura local e regional.
Sobre o desenvolvimento econômico e cultural o entrevistado nº 2 diz:

Desde el año 45, desde el tiempo de Perón hasta 55 se pasaba todo para el
Brasil, el Brasil no tenía nada, nosotros le daba todo, y ahora el Brasil nos
superó ¿eso puede poner no? Si, perfectamente. Bueno entonces desde el año
45 hasta el 55 se pasaba toda la mercadería para el Brasil, toda: harina, grasa,
aceite…toda nosotros, yo tenía una casa de negocio fuerte y mi hermano
también…

Na fronteira desde do ano de 1945, quando Juan Domingos Perón era presidente, os
brasileiros compravam produtos da Argentina atraídos pelo baixo preço, isso ocorreu até
por volta de 1955, o que atraiu a vinda de pessoas de outros municípios do Oeste de Santa
Catarina, Sudoeste do Paraná e Rio Grande do Sul. Com o Golpe militar de 1955, Perón foi
destituído do poder, houve mudanças na política econômica daquele país e
conseqüentemente ocorreu o aumento dos preços dos produtos argentinos alterando a
relação comercial na fronteira. Durante o período de dez anos o comércio de Irigoyen
apresentou um grande crescimento devido a vinda de pessoas dos municípios vizinhos
comprar na Argentina. Essa prática contribuiu para o aumento do relacionamento das
diferentes culturas: A cabocla, alemã, italiana, polonesa e libanesa que deram sua
contribuição no processo de formação das cidades da fronteira.
O último entrevistado é um colonizador, que chegou na fronteira na década de 1940,
ele veio do Rio Grande do Sul junto com seus irmãos, o Sr. Nilson Verona de 77 anos de
idade residente na cidade de Dionísio Cerqueira /SC.
O entrevistado relata sobre os motivos da vinda para a região da fronteira:

Nossa vinda foi de trabalho na Argentina fiquemos trabalhando na Argentina
lógico foi só para trabalhá na Argentina e depois da Argentina surge da gente
ter que sair de lá e fiquemos trabalhando no Brasil.

O objetivo maior era a busca de trabalho, o entrevistado em sua fala demonstra que
o interesse maior era buscar melhores ganhos e com certeza melhorar de vida. Tal
depoimento confirma o porque da vinda dos colonizadores para região fronteiriça, acumulo
de capital, a busca de riquezas e expansão dos negócios.

“Nós trabalhava com caminhon, no é, sempre fomos motorista, fomos
motorista, nós era dono dos caminhon e sempre trabalhando com caminhon.”.

Por se tratar de uma região com recursos naturais abundantes principalmente a
madeira. Grandes madeireiras se instalaram nessa região. Devido a escassez de caminhões
tanto na Argentina como no Brasil, a família Verona se deslocou do Rio Grande do Sul
para fazer fretes com seus caminhões, atividade essa bastante rara neste espaço fronteiriço.
Sendo indagado sobre se havia sentido diferenças nesta região com relação a sua
terra natal o entrevistado nº 3 fala:

O que chamou atenção, por exemplo: eu achava que era bem diferente, em vez
eu chegamos aqui bem dize era, bem dize quase tudo Brasil por que ia pra
frente e pra trás não tinha, não tinha Aduana, não tinha nada ainda, não tinha
passe ia e vortava sem, sem pedi nada pra ninguém única coisa que lá do outro
lado a gente achou um pouco diferente por que era o tempo de Perón a gente
tinha que tirá o chapéu pra entrá lá, única coisa senão outra coisa não.

A busca por novas terras, novos sonhos fazia com que os colonizadores
imaginassem um paraíso, onde tudo seria transformado em um toque de mágica, no que diz
respeito a vida aos negócios ao acumulo de bens. Quando saíram do Rio Grande do Sul
pensavam que aqui era tudo diferente, mas, no entanto encontraram aqui um modo de vida
parecida com o seu, enfim essa terra estava habitada por gaúchos que provavelmente teriam
vindo antes da colonização, que aqui transitavam com liberdade entre os dois países, como
se não existisse fronteira física.
Continuando seu relato o entrevistado diz:

“Era a mesma coisa, não tinha o porque lá na Argentina tinha muito pouco
argentinos mesmo os restos era tudo gaúcho”.

O relato confirma que a população da fronteira naquela época era em sua maioria
gaúcha, afirmando que a cultura dos habitantes não era tão diferente da cultura dos
colonizadores. Esse fato demonstra que nossa região, assim como toda a região sul do
Brasil apresenta uma certa homogenia cultural, muito embora haja uma grande diversidade
étnica.
Questionado sobre o relacionamento entre os colonizadores e os que aqui residiam o
entrevistado nº 3 argumenta:

Nós chegamos e fumo muito bem recebido, aqui era tudo gente boa, era tudo
muito bem recebido e respeitado, porque naqueles anos lá os mais mesmo que
tinha aqui era os Dico que era um gaúcho de Soledade casado com uma
castelhana e depois a família Maran, tinha os como é que era? Os Freitas as
únicas famílias que tinha aqui era essas três famílias.

No que abrange o relacionamento dos colonizadores com os que aqui já residiam era
considerado harmonioso, no entanto, o entrevistado frisa somente as famílias tradicionais,
esquecendo que neste espaço vivia o sertanejo. Com relação a família Dico anteriormente
citado foram os pioneiros de Irigoyen que trabalhavam nos dois países.
Sobre como eram as cidades da fronteira, o entrevistado nº 3 explana:

Mas não era nada, não existia nada, tinha sete, oito casas e uma das primeiras
casas foi aquela dos Verona...e nóis por exemplo pra matá a fome mesmo nóis
saía daqui e ia, a gente chegava na Separação por que aqui nem nóis não era
quase nada, então a gente trabalhava pra lá, mais nóis saia daqui das nossas
casas e ia em separação. Lá era maior, tinha loja, tinha, tinha bolão, tinha jogo
de bocha, tinha bastante coisa e aqui em Dionísio naqueles anos lá não tinha
nada, não tinha nada, nada.

Separação se situa a cerca de oito quilômetros ao leste da cidade de Dionísio
Cerqueira. Nos anos 40, Separação tinha mais habitantes que Dionísio, possuía mais
comércios e segundo as histórias contadas pelos povoadores teria tudo para ser a sede do
município. O nome Separação foi dado por causa da passagem da Coluna Prestes, neste
lugar a coluna se separou em duas, a mesma citação esclarece que os moradores de
Dionísio dependiam do comércio daquela localidade para se abastecer de mantimentos.
O entrevistado nº 3 conta como era o modo de vida dos fronteiriços:
Era que o negócio, por exemplo os caboclos, eles tinham uma, eles chegavam
e faziam bagunça e tudo e a gente ficava meio, meio assim né, por que quase
pouco conhecia daí depois foi passando, foi passando e melhorando, daí então
quando eles viram que não era tão gaúcho que era pra ser enton, eles pegaram
e se acalmaram, o senão... Teve gente que era de fibra naqueles anos.
Com a vinda dos colonizadores, a população local no primeiro momento ficou
desconfiada com a presença destes, gerando alguns tipos de conflitos, mas, com o decorrer
do tempo a convivência passou a ser mais amistosa. Após serem testados pelos fronteiriços
os colonizadores ganharam a confiança e se integraram na sociedade local.
Perguntado sobre o relacionamento entre as polícias das três cidades o entrevistado
diz:
Eles tinham, eles tinham mais ligação entre brasileiro com a Argentina do que
o brasileiro com Paraná, aqueles do Paraná com Santa Catarina, eles não se
gostavam, até se tiroteavam e com a Argentina não. Não sei se era que o
brasileiro mesmo, soldado do Brasil às vezes tinha medo daqueles, porque
sempre se deram muito. O que não se dava era a policia do Paraná, eles não se
davam, tinha um sargento brabo ali no Paraná.
Desde a implantação das policias dos dois países o relacionamento entre eles foi de
amizade e cooperação entre Bernardo de Irigoyen e Dionísio Cerqueira. Porém entre as
cidades de Barracão e Dionísio Cerqueira não era assim, a rivalidade entre as duas
corporações chegou a ponto de se enfrentarem com armas, certamente levados pelo
ressentimento da Guerra do Contestado.
Perguntado sobre as colonizadoras e a forma como as mesmas atuavam o
entrevistado nº 3 responde:

Mais ali até pra dizer a verdade eu nem sei bem como é que surgiu isso, ali no
Barracon por exemplo, era uma firma e aqui em Santa Catarina era a Barth
Annoni que abraçava tudo, tudo isso aqui era Barth Annoni, desde ali no
Cedro, ali era tudo. A firma Barth Annoni era de Carazinho, Carazinho e o
primeiro prefeito eleito que teve aqui o finado Hélio Wassun. Tu viu bastante
falá dele?
Mais ou menos.
Morreu agora faz pouco, ele sempre foi de, de. Ele também era de Carazinho e
daí quando foi municipado Dionísio aqui. Por que em primeiro lugar foi São
Miguel, Itapiranga e depois foi Dionísio né então Cedro e tudo pertencia a
Dionísio, daí esse tal de Hélio Wassun correu pra prefeito, ganhou a eleição
com o finado Dalilo Pereira, era o Dalilo com o Hélio, daí o Hélio ganhou a
eleição, daí ele trouxe os caboclos, lá pra cima do norte, eles eram nortista os
dois e pra espancá tudo essa gente que tava encima das terras. Já ouviu falá
disso aí?
Vagamente, né.
Eles compraram dois burros, tinham comprado dois burro chucro e andavam
com 38, andavam no meio da policia pra cá e pra lá, então eles chegavam e
iam empurrando se tivesse colono trabalhando, até mulher grávida e tudo eles
empurrava aqueles burro por cima e tu nunca ouviu falá disso?
Mas esse pessoal era o pessoal que não tinha documentos das terras,
digamos?
Sim, sim essa firma Barth Annoni queria tirá, eles queria tirá essa gente,
quando eu vim eu não sei o que deu, aí é que o IINCRA veio e mediu , deu a
posse pra essa gente que tava em cima das terras e a firma virou em nada. Não
sei, é mais foi muito brabo naqueles ano lá. E ele, e ele não durou muito, ele
durou uns par de meses assim e depois ele, fizeram espera por aí pra ele assim
e mataram e o finado Coiso não morreu por causa que ele correu, o finado
Muniz pai do cabo Santo.
Ah, ele também tava metido nessas coisas, história aí?
Claro ele era pistolero, ele era pistolero.

Segundo o relato do entrevistado, a firma colonizadora Barth Annoni, responsável
pela venda das terras da região trabalha com o objetivo de desapropriar os agricultores
donos das terras pelo direito de posse, mas que não possuíam títulos de propriedade usando
para isso a força, contratando dois pistoleiros que amedrontavam e agrediam os moradores,
com base nos depoimentos é possível ver com clareza a conivência da policia local a
mando do prefeito que apoiava essa prática criminosa. Os moradores expulsos migravam
para a Argentina devido a facilidade de entrar naquele país bem como a abundancia de
terras pertencentes ao governo e disponíveis para quem quisesse ocupá-la.
Segundo ainda o relato a população local se organizou emboscando os pistoleiros
resultando na morte de um deles e na fuga do outro. Com o agravamento do conflito, o
INCRA foi solicitado, medindo as terras esse órgão forneceu títulos aos posseiros.
O entrevistado nº 3 continua seu relato relacionado a diversidade cultural na
fronteira da seguinte maneira:

Tinha sim, tinha de duas, três, quatro, como assim por exemplo: tinha o
Paraguai, tinha os castelhanos, tinha o chileno, tinha os gaúchos do Rio
Grande, tinha, tinha bastante gente dessa parte.
Turcos por exemplo tinha por aqui? Árabes?
Turco, turco também existia, muito pouco, mais, por exemplo, existia na
Argentina, que nem aí, por exemplo, o tal Gabriel.

Quando os colonizadores vieram para a fronteira havia poucos moradores nesta
área, mas mesmo assim já havia uma diversidade étnica. Esse contingente era atraído pela
possibilidade de crescimento econômico. Ao se encontrarem aqui interagiam culturalmente
começando a formação de uma nova cultura.
Indagado sobre como era a diversão nas cidades da fronteira, o entrevistado nº 3 diz:

Ah mais eu gostava demais, era eu achava mais jóia do que lá no Rio Grande,
por que aqui tudo era amigo se misturava, era, era fara e fara por que nos
bailes mesmo chegava e entrava até de pé no chon e dançava, pegava aquelas
morenas lá e saía trotiando com elas, na época era assim aí, por exemplo: na
frente da prefeitura ali tinha o bar Tango, aonde é a prefeitura agora e a gente
às vezes chegava até meio sujo e tudo, tinha aqueles matiné lá de tarde assim a
gente boliava o pé do caminhon entrava lá sujo mesmo e chacuaiava, naquele
tempo tinha pouca gente mesmo. Guria que tinha aí mesmo era aquelas filhas
do Mizaél que agora já tem umas quantas morta, depois aquelas do Silva Dico
que tu conheceu decerto, as Freita e otras guria quase não tinha era só, tinha
mais umas caboclinha mas aí ...

Os divertimentos e o acesso aos locais dos mesmos demonstram que os habitantes
da terra recebiam bem seus novos moradores e que os novos moradores não discriminavam
tanto as outras etnias, pelo menos no que diz respeito a esse particular. Entretanto quando
se refere às moças da cidade cita apenas as que pertencem a famílias tradicionais deixando
transparecer que as filhas dos caboclos não tinham participação na sociedade, assim como
as de famílias tradicionais, muito embora a participação da mulher fosse restrita, pois a
importância da mesma reduzia-se ao lar.
Ainda perguntado se havia problemas nos locais de diversão entre as etnias aqui
existentes, ele responde:

Não, não tinha por causa que, eu sei se era por que era, a polícia era muito
respeitada no é então não tinha aquele entrevero de dizê, chegá e faze
bagunça.
Saía bastante nóis dançava muito mais na Argentina do que aqui no Brasil. Por
que lá no Brasil (Argentina) era muito difícil um sábado ou domingo que não
tivesse baile, pelo meno domingo de tarde era matinê e matinê e quando não
era num lugar era no outro, era chóte velho, lá era divertido, os castelhanos
são divertido, eles não são muito de trabaiá, mas pra se divertí eles são bão.
Por outro lado a polícia garantia o livre acesso a todos nos bailes e nas festas
populares. Organizavam bailes todos os fins de semana, juntamente com as carreiras de
cavalo eram os únicos divertimentos que se realizavam no Brasil e na Argentina e eram
freqüentados pelos habitantes das cidades dos dois países. Esse fato contribuiu para a
melhor relação entre as pessoas das três cidades e na formação cultural da fronteira.
Referente a culinária regional o entrevistado nº 3 comenta:
Ah eu achei bastante, por exemplo a gente comia churrasco com farofa, com
pon no é e assim e quando nóis viemo pra cá achemo extranho que o churrasco
tinha que ser com mandioca e ainda eles pegavam e cozinhavam aqueles
pedaços de carne com coro e tudo, era assim a comida deles, essa e outras
comidas.

No que diz respeito à gastronomia, o entrevistado diz que quando chegou aqui não
se surpreendeu, pois a maior diferença teria sido que a mandioca era parceira do churrasco
enquanto que no Rio Grande do Sul comiam o churrasco com pão e farofa. Esse costume é
próprio dos paraguaios, que com certeza foi trazido por eles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A História enquanto área de conhecimento social tem grande importância na
formação dos povos, ela possui um amplo espaço de pesquisa onde através dela pode-se
conhecer e investigar o passado para compreender o presente. Entender os acontecimentos
em sua plenitude, mas para isso exige um trabalho com responsabilidade e seriedade uma
vez que envolve seres humanos, fatos delicados e muitas vezes toca a essência da vida de
muitos dos envolvidos.
Trabalhar a pesquisa em história é gratificante ao passo que somos a todo instante
chamados à reflexão, convidados a revisar e observar posicionamentos e certos de que
muitas vezes a história excluiu sociedades inteiras, negando a existência de muitos. Na
atividade histórica a importância do historiador é indispensável, nas mãos deste reside o
compromisso de ensinar, de revelar acontecimentos dos quais nunca foram revelados antes.
A história enquanto disciplina deve possibilitar ao aluno a busca pela pesquisa, o
desejo de obter o conhecimento dos fatos, e, jamais se resumir em meros conteúdos
abordados em sala de aula os quais não tem relação com a realidade dos temas abordados.
Ela deve desenvolver no educando habilidades teóricas e práticas principalmente no que diz
respeito ao trabalho realizado através da pesquisa oral.
A fonte de pesquisa oral é de grande abrangência, no campo de trabalho desta existe
um vasto conhecimento a ser desvendado, embora a prática da mesma seja recente na área
de história, vem avançando relativamente bem e cada vez mais provando sua eficácia na
história dos povos, mais especificamente no que se refere a história dos oprimidos, dos
excluídos da sociedade que de fato construíram a nossa história. Atualmente esta vem
apontando a existência dos fatos negados pela história oficial, dando voz e vez ao grito dos
não ouvidos na história dos considerados grandes heróis.
A presente pesquisa foi de grande valia, pois possibilitou a melhor compreensão da
formação das cidades da fronteira através de diferentes olhares de pessoas que vivenciaram
e construíram a história destes municípios, destaca-se aqui a importância dos entrevistados
para elaboração do conhecimento escrito sobre a formação étnico cultural uma vez que é
escassa a fonte escrita sobre o povoamento da fronteira. O conhecimento adquirido
contribuirá para com a prática pedagógica dos estudos curriculares, complementando e
relacionando fatos oficiais com a história oral, sendo que a última serve de contraponto
entre os conhecimentos históricos abordados nos livros didáticos, os quais não trazem a
história local deixando-a no anonimato.
Pode-se dizer em relação as pessoas entrevistadas que detentor de conhecimento não
é só aquele que se considera doutor ou especialista em determinada área, mas que o
conhecimento independe de grau de estudo e classe social, provou-se ainda que toda a
cultura é importante e que todo o ser humano possui conhecimento. É importante destacar o
papel da escola, da universidade na organização e no aprofundamento desses
conhecimentos, através da produção de pesquisa e registros científicos para que seja de
acesso àqueles que buscam conhecer a sua história.
Sentiu-se a importância, a alegria daqueles que tem oportunidade de contribuir
relatando a história no contexto regional, os mesmos sentiram-se valorizados e gratos pela
pequena participação, mas de grande valia para a construção da história local. Detectou-se
que são pessoas humildes e sinceras merecedoras de valorização, dando exemplo para
aqueles que são responsáveis pelo papel de ensinar, de fazer e transmitir conhecimento,
pois, apesar de não ser detentor do conhecimento formal, destacam-se pela sabedoria com
que conduzem a vida. Foram seres humanos que enfrentaram dificuldades, mas não
desistiram de seus sonhos sempre de olho no futuro e na esperança de dias melhores, foram
hábeis, corajosos e persistentes na luta constante.
A pesquisa apontou que a história local no que se refere a sua formação foi quase
que uma reprodução da formação do Brasil, nos aspectos econômicos, social e cultural.
Enfim conclui-se que toda a história tem suas particularidades que de forma geral se
relacionam entre si, sendo todas passíveis de mudanças.
No que se refere a formação das cidades da fronteira o resultado da pesquisa aponta
que a região fronteiriça possui particularidades impar na região, tanto no lado brasileiro,
quanto no lado argentino, nos aspectos culturais, econômicos, de relação inter-pessoal e
principalmente na convivência entre os povos da fronteira. Estes apesar de pertencerem a
diferentes etnias e possuírem culturas diferenciadas convivem dentro de uma tolerância
pouco comum na região, desmistificando a idéia de violências na região fronteiriça. A fama
de mortes, valentia e impunidade ficou na história, as cidades que compõe a fronteira são
formadas por povos cordiais entre si e hospitaleiro com os que chegam de fora, a fronteira é
um lugar onde vive-se relativamente em paz e harmonia.


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